A paróquia Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito é um dos marcos da história da cidade |
Somente em 16 de janeiro de 1890, a Vila foi elevada a categoria de Cidade, através do Decreto Estadual, número 37.
O território riobonitense foi desmembrado de Saquarema e Capivari (atual Silva Jardim). A emancipação favoreceu ainda mais o crescimento social e econômico da então Freguesia. Percebendo essa ascensão, a Companhia Ferro-Carril Niteroiense, em 18 de agosto de 1880, instalou o seu ponto terminal em Rio Bonito, fazendo a Vila se tornar um grande centro comercial.
De acordo com historiadores e pesquisadores, em seus primórdios, Rio Bonito era uma terra muito próspera por conta da agricultura e da mão de obra dos negros escravos. Até a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a escravidão, uma mancha que nunca será apagada da história do Brasil, registrou momentos de sofrimento, luta e sangue.
Como maio é o mês da liberdade dos negros e do aniversário da nossa cidade, O TEMPO EM RIO BONITO publica a seguir, “A História de Manoel Samburá”, fato verídico, ocorrido em solo riobonitense no ano de 1884. O texto é do poeta riobonitense Francisco Azevedo, que relata em versos esse fatídico acontecimento. Assim, homenageamos duas datas carregadas de história para todos nós, brasileiros e riobonitenses: os dias 13 e 7 de Maio.
A história de Manoel Samburá
Por Francisco Azevedo
A escravidão é um mal ainda hoje |
Encerram fatos marcantes
Uns alegres outros tristes
Porém, emocionantes
Coisas que aconteceram
Numa época distante.
Como todos nós sabemos
Toda a nação brasileira
Usou e até abusou
Da prática vil costumeira
De escravizar pessoas
Mantendo-as prisioneiras.
Mesmo aqui em Rio Bonito
Isso não foi diferente
Porque centenas de escravos
Sofriam amargamente
Trabalhando fustigados
Pelo chicote inclemente.
Muitos senhores de escravos
Eram cruéis e durões
Parece que havia pedras
No lugar dos corações
Fazendo os negros sofrerem
Abusos e humilhações.
Pense bem meu nobre amigo
Já é duro ser escravo
E ainda mais ser mal tratado
Sofrendo injustos agravos
Ser tratado como um bicho
Como um cão raivoso e bravo.
Era ensinado que o escravo
Alma não possuía
E assim podia sofrer
Qualquer uma covardia
Um sofrimento atroz
Por séculos dia após dia.
Por isso muitos escravos
Revoltados se tornavam
Fugiam para os quilombos
E nas matas se embrenhavam
E outros com violência
Os seus algozes matavam.
O interessante é que estamos vendo um negro castigando outro |
Que eu passo a voz contar
Que fala sobre um escravo
Que o seu senhor veio a matar
Conhecido pelo nome
De Manoel Samburá.
Foi a quinze de outubro,
De mil oitocentos e oitenta e quatro
Que na região de Catimbau
Aconteceu este fato
E nos versos que se seguem
Eu faço o seu relato.
José Fonseca Portela
Fazendeiro da região
Às oito horas da noite
Vigiava com atenção
Os seus escravos fazendo
O costumeiro serão.
Estando desprevenido
O serviço a indicar
Foi agredido de repente
Por Manoel Samburá
E na posição que estava
Não conseguiu se livrar.
Armado com uma enxada
O escravo o atacou
E com golpes violentos
O seu crânio esfacelou
Matando na mesma hora
Seu odiado senhor.
O escravo Samburá
Era livre, alforriado,
Mas mesmo assim continuava
A ser muito maltratado
E nesse dia fatal
Havia sido surrado.
Em quanto no frio chão
Rolava o fazendeiro
Uns corriam, outros gritavam,
Num enorme desespero
Juntou logo muita gente
Ali, no grande terreiro.
O feitor mais que depressa
Tratou de o portão fechar
Para que o agressor
Não pudesse escapar,
Mas logo notou a falta
De Manoel Samburá.
Entretanto, o escravo
Tratou de se apressar
Fugiu para Boa Esperança
Para assim se entregar
E confessou o seu crime
A polícia do lugar.
O escravo confessou
Ter o crime praticado
E disse que havia mais três
Envolvidos no atentado
E que o agente dos Correios
O havia instigado.
Samburá denunciou
Os companheiros até
Eram eles: Venâncio Grande,
Manoel Rosa e Felipe Ingabé
Os três sabiam do caso
E agiram de má-fé.
Os escravos foram presos
Sem clemência e sem tardança
O agente dos Correios
De lá de Boa Esperança
Era o seu José Espíndola
Que foi solto sem tardança.
Por Marcírio Mendonça Santos
Na época o delegado
Da Vila de Rio Bonito
Foi o caso acompanhado
Ficando assim na história
Muito bem documentado.
Mas esta onda de sangue
Se avoluma e não descansa
E logo surgiram pessoas
Para fazer a vingança
Manchando com sangue escravo
O chão de Boa Esperança.
Alguns dos familiares
Do fazendeiro assassinado
E outros amigos do morto
Ficaram encolerizados
E invadiram a prisão onde estavam
Os assassinos trancados.
O senhor José Camilo
E José Monteiro Romão,
Raimundo e certo Paulino
Lideraram a invasão
E cometeram este crime
De feia repercussão.
Arrebentaram as grades
Com os seus fortes machados
E trucidaram os criminosos
Que gritavam desesperados
E a tiros e pauladas
Foram assim despedaçados.
Os negros eram tratados como animais pelo homem branco |
Já era rapaz formado
Acompanhou alguns lances
Deste crime praticado
E relatou um incidente
Que nos livros não é contado.
Depois de mortos e cortados
A foice, de várias maneiras
Foram trazidos à rua
E ali de forma grosseira
Ensopados de querosene
Arderam em grande fogueira.
Foi grande a carnificina
Mas ninguém foi condenado
Ficando como reação
De um povo revoltado
A vingança estava feita
E o caso foi arquivado.
Aqui encerro esta história
Contada com emoção
Que nos faz tremer a alma
E doer o coração
E espero que nos ensine
Esta importante lição.
Todos nós temos direitos
A vida e a liberdade
Seja branco, negro ou índio,
De qualquer crença ou idade
O importante é ser honesto
E viver com dignidade.
Nós que agora vivemos
Somos privilegiados
O Brasil é um país livre
Ninguém é escravizado
Mil vezes graças a Deus
Mil vezes muito obrigado!
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