sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Aumento do consumo de crack preocupa Rio Bonito

Por Flávio Azevedo

As estatísticas de apreensões de crack indicam o aumento no número de usuários da droga na região. Levantamentos realizados pela Central do Disque-Denúncia apontam que nos cinco primeiros meses de 2010, as apreensões do entorpecente, em São Gonçalo, por exemplo, já correspondem a 84% do total da droga apreendida no município no ano passado. Cerca de 10% das denúncias sobre tráfico de drogas na região são referentes ao crack. No mesmo período de 2009, esta proporção foi de 3,9%.

Dados do Setor de Planejamento de Operações (P-3), do 7º Batalhão de Polícia Militar de São Gonçalo reforçam esse crescimento. De janeiro a maio do ano passado, os policiais militares tiraram das ruas aproximadamente 2,7 quilos da droga. Já este ano, no mesmo período, esse número chegou a 7,5 quilos. No último mês de maio, 3,2 quilos do entorpecente foram retirados das bocas de fumo do município.

Em Rio Bonito, o crack já está sendo comercializado. Uma pesquisa nos boletins de ocorrência da 119ª DP revela que a polícia tem feito apreensões da droga. Usuários de drogas confirmam essa realidade e revelam que o número de viciados em crack, em Rio Bonito, pode ser superior ao que é estimado pelas autoridades. “Tem gente que você nem imagina! Alguns têm posição social importante, outros se dizem da igreja, mas no fundo todos estão usando”, diz um usuário que pede para não ser identificado. Segundo ele, a novidade faz as pessoas experimentarem o crack.

Especialistas afirmam que o avanço de qualquer droga, não deve ser combatido apenas com força ostensiva (polícia), mas também com políticas públicas de saúde. A repressão policial é necessária, mas se não for acompanhada de programas de prevenção e tratamento para o usuário ela será inútil.

“Atenção das autoridades”

O pároco Eduardo Braga falou sobre o uso indiscriminado de drogas e álcool pelos mais jovens.
No dia 24 de junho de 2009, o então pároco da paróquia de São João Batista, da Praça Cruzeiro, Eduardo Braga, demonstrava preocupação com o tema. Ele falou sobre a ausência de valores morais, a degradação da família e também sobre o uso indiscriminado de drogas e álcool pelos mais jovens. “O número de jovens usando drogas está crescendo, e impedir essa situação é um grande desafio. Nossas famílias não podem ser destruídas por um cigarro de maconha, por um pozinho chamado cocaína ou por uma pedrinha chamada crack, que já chegou à Praça Cruzeiro, e custa R$ 5,00 aqui na quadra do bairro”.

“Participação da família”

Em entrevista exclusiva a nossa reportagem, o prefeito José Luiz Antunes (DEM), disse que o assunto preocupa, mas lembrou que as famílias devem estar atentas ao tema. Segundo o chefe do Executivo, os pais precisam saber quem são os amigos dos filhos e conhecer os lugares que eles frequentam. “Mas infelizmente, tem pai que não serve de exemplo para o filho”, destacou o prefeito, lembrando que alguns são indiferentes ao comportamento dos filhos. “Alguns pais, não cobram horário dos filhos, eles chegam e saem à hora que querem e fica por isso mesmo”.

O Programa Educacional de Resistência as Drogas e à Violência (Proerd), realizado pela Polícia Militar, é um programa de caráter social e preventivo posto em prática nas escolas para alunos do ensino fundamental. De acordo com o prefeito atividades desta natureza devem ser realizadas também por outras instituições para evitar que o jovem busque o caminho das drogas. Ele, porém, acredita que o apoio dos pais é determinante para que qualquer medida tomada pelo poder público tenha resultados positivos.

A nossa reportagem também ouviu o presidente da Câmara Municipal, vereador Fernando Soares (PMN). De acordo com ele, o tema é sério, deveria ser discutido com mais freqüência e sem preconceitos. “A droga, seja ela qual for, destrói famílias, causa desemprego e, hoje, é também um caso de saúde pública. Porém, a solução do problema está dentro de casa. Quando os pais conhecerem melhor os seus próprios filhos, certamente esse cenário que vemos hoje vai mudar”, analisou.

Pai de adolescente, o presidente da Câmara afirma que o diálogo e a união da família são as ferramentas mais eficazes para evitar o envolvimento dos filhos com as drogas, ou para recuperar aquele que já se envolveu. “Sem a família, o caminho não tem volta”, concluiu.

Plano contra a 'pedra'

No último dia 20 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, durante a 13ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, um decreto que institui o ‘Plano Integrado Para Enfrentamento do Crack no País’. O tema será tratado a partir de três frentes: combate, prevenção e tratamento. O governo disponibilizou R$ 410 milhões de orçamento para esse programa, que tem como intenção, reforçar a fiscalização das fronteiras, para impedir a entrada de drogas no país. A Polícia Federal, as Forças Armadas e a Força Nacional de Segurança Pública serão utilizadas nesse trabalho. Ainda sobre drogas, o presidente Lula pediu comprometimento dos prefeitos e revelou um dado preocupante: “a droga saiu dos grandes centros e está se espalhando nos municípios menores”.

Forma impura de cocaína

Resultado da mistura de cocaína com bicarbonato de sódio, o crack é considerado uma forma impura da cocaína. O nome deriva do verbo “to crack”, que, em inglês, significa quebrar, referência ao ruído produzido pela queima das pedras durante o consumo. Apesar de ser mais barato que a cocaína, o poder alucinógeno e destrutivo da droga é cinco vezes maior que ela. Segundo especialistas, a droga leva apenas 10 segundos para fazer efeito, gerando, inicialmente, euforia e excitação. Em um segundo momento, essa sensações desaparecem, logo os neurônios começam a ser lesados e o coração entra em descompasso. O usuário corre o risco de ter hemorragia cerebral, fissuras, alucinações, delírios, convulsões e infarto. Todos esses efeitos colaterais evoluem para a morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário