sábado, 25 de setembro de 2010

Mobilização dos universitários riobonitenses completa um ano

Por Flávio Azevedo

Os movimentos estudantis e as grandes manifestações feitas pela categoria, contra a Ditadura Militar, durante os “anos de chumbo” (1964 a 1984), renasceram em Rio Bonito em agosto de 2009. Com objetivo de fazer voltar o transporte gratuito, na época, suspenso por tempo indeterminado pela Prefeitura Municipal, os estudantes, por duas vezes (26 e 28 de agosto), saíram em manifestação pelas principais ruas da cidade. Com palavras de ordem, ostentando cartazes e narizes de palhaço, o grupo saiu da Praça da Bandeira, no Centro, percorreu as ruas Dr. Francisco de Souza e XV de Novembro, antes de chegar à Prefeitura Municipal, na Praça Fonseca Portela.
O trânsito foi desviado para a Av. Castelo Branco (rua dos bancos), enquanto os universitários, sentados no chão, esperavam uma resposta oficial do prefeito José Luiz Antunes (DEM), que não estava na Prefeitura nas duas ocasiões. A mobilização também tinha como objetivo, cobrar melhorias para o transporte universitário. De acordo com os estudantes, os ônibus estavam transportando cerca de 150 pessoas em pé, além dos 45 passageiros sentados.

Relembrando a História

Na primeira manifestação, no dia 26 de agosto, cerca de 20 minutos depois de iniciado o movimento, três alunos foram recebidos pelo chefe de gabinete, Edelson Antunes, pelo Procurador Geral do Município, Leandro Weber e pelo assessor especial do prefeito, Jerônimo Siqueira. Durante o encontro, o procurador do município pediu um pouco mais de paciência.
 
 No dia 27 de agosto, os universitários lotaram as dependências da Câmara Municipal de Vereadores e receberam a solidariedade dos parlamentares. O presidente da casa, vereador Fernando Soares (PMN) e a vereadora Rita de Cássia (PP), da Comissão de Educação, participaram de algumas reuniões, receberam os líderes do movimento, mas os universitários, sem paciência com a morosidade e os trâmites da administração pública, classificaram a Câmara Municipal como “omissa”.      


Centenas de universitários sentaram na Rua XV de Novembro
em frente a Prefeitura Municipal
  No dia seguinte – 28 de agosto – aconteceu nova mobilização. Composta por mais universitários, muitos deles sem aulas há uma semana, por não terem condições financeiras de pagar passagem todos os dias, a manifestação foi maior e mais demorada. O estudante de Direito, Leandro Gonçalves, um dos líderes do movimento, fez uma retrospectiva da situação dos universitários em Rio Bonito. O Universitário lembrou que em 2004, o então candidato a prefeito, José Luiz Antunes, pegou carona no ônibus que transportava os estudantes e prometeu condições dignas de transporte.

Passando pela Praça Fonseca Portela durante a manifestação, o então pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição, Monsenhor Guedes, disse que uma conversa sincera poderia solucionar o problema. Para ele “um país e um município que não planta o estudo está cultivando um futuro muito triste”. Parafraseando Ruy Barbosa, ele concluiu: “fechar escolas é abrir cadeias”.

Assembleia dos universitários

Na manhã do dia 5 de setembro, de 2009, cerca de 80 universitários, dum universo de 1,2 mil estudantes, estiveram reunidos para escolher a comissão que iria representar os universitários de Rio Bonito. A assembleia aconteceu na quadra do Ciep, na Mangueirinha. Depois de intermináveis reuniões, encontros e desencontros, os ônibus universitários começaram a circular na dia 9 de setembro de 2009.
A comissão dos universitários decidiu junto aos representantes da administração municipal, que o transporte – até que o ônibus em reforma estivesse pronto – seria feito por ordem alfabética. Num dia viajavam alunos que a letra inicial do nome era de A até L. No dia seguinte viajavam quem a letra inicial era de M até Z. A decisão gerou protestos, mas a situação permaneceu.

Falta mobilização

A mobilização dos universitários riobonitenses é apontada como exemplo de pressão para resolver vários problemas sociais no município. O universitário Luis Cláudio Soares, 26 anos, morador do Centro, comentou que o município é carente de movimentos sociais e lideranças que tenham orientação de esquerda. Estudante de Ciências Sociais, ele comenta que “vejo muita gente reclamando da vida, mas são pessoas incapazes de se organizar e lutar pela solução dos seus problemas”.
– Em 2008, por exemplo, quando moradores de vários bairros da cidade tiveram as suas casas interditadas por causas das chuvas, essas pessoas não conseguiram se organizar para pressionar o poder público. O movimento que apareceu era composto por pessoas que tinham interesses partidários – analisou o universitário.
As costumeiras faltas de médico nos postos de saúde, exames marcados para três, quatro meses depois de pedidos, falta de professores ou merenda escolar, licitações “duvidosas”, “são coisas que também deveriam levar a população às ruas”, afirma Soares que critica o formato de política praticado em Rio Bonito.
– O nosso município é carente de lideranças que tenham orientação de esquerda. A Câmara Municipal, por exemplo, é composta por elementos que só fazem política assistencialista. Eu li nos jornais que duas CPIs foram abertas no ano passado. Um ano depois, qual a conclusão dos parlamentares? Nenhuma, eles devem ter esquecido – disparou o universitário.

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