sábado, 25 de setembro de 2010

Carência educacional limita o crescimento brasileiro

Por Flávio Azevedo
Lula recebendo a faixa presidencial durante a sua posse

Ao ser diplomado e empossado como presidente do Brasil, em janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva declarou que finalmente obteve seu “primeiro diploma”. O presidente brasileiro de menor instrução da história do país – completou apenas o quarto ano do primário – tem como principais desafios, fortalecer e investir na Educação, setor determinante para acelerar a economia de qualquer país que queira figurar entre as potências mundiais. “Infelizmente, numa era de competição global, o estado atual da Educação no Brasil vai fazer que a nação fique abaixo de outras economias em desenvolvimento”, aponta um estudo do Banco Mundial (BID) num relatório de 2008.
Na última década, os estudantes brasileiros ficaram com as notas mais baixas entre alunos de vários países, em áreas como Leitura, Matemática e Ciências. Inclusive, nações latino-americanas como México, Chile e Uruguai estão à frente do Brasil quando o assunto é Educação. Os brasileiros de 15 anos de idade ficaram no 49º lugar, num exame de leitura realizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que contou com a participação de 56 países. Em Matemática e Ciências o desempenho foi pior. Os alunos brasileiros de 15 anos obtiveram resultados semelhantes aos que foram alcançados por estudantes, de 9 e 10 anos de idade, que eram provenientes de países como Dinamarca ou Finlândia.

A taxa de repetência no primeiro ano, segundo o estudo do BID, é de 28%, uma das mais altas do mundo. Essa realidade faz com que as salas de aula tenham muitos alunos acima da idade. Outro problema é a alta taxa de reprovação, que estimula o aluno abandonar os estudos. Segundo o economista Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “o Brasil continuará crescendo mais lentamente que o seu potencial, por causa do seu sistema educacional”.

“Obsessão” do governo


O Ministro Fernando Haddad
Durante os seus dois mandatos, o presidente Lula demitiu dois ministros da Educação, antes de se decidir por Fernando Haddad, em 2005. Por isso, muitos programas educacionais só começaram para valer em 2007. Agora, em seu último ano de mandato e falando sobre o seu lugar na história do país, o presidente, segundo o ministro Fernando Haddad, teria uma “obsessão”: estimular a Educação. “Quero que cada criança estude muito mais do que eu pude estudar, e que consigam um diploma universitário”, disse Lula recentemente durante o lançamento de um programa do governo.
A decisão, embora tardia, já não era sem tempo, porque o Brasil já se estabeleceu como uma força global, montado no boom das commodities e no consumo doméstico. Além disso, as novas descobertas de petróleo e a boa relação comercial com a China, principal importador de alimentos e matéria-prima do país, apresentam um futuro promissor para o Brasil.

Qualificar é importante
Existem muitas oportunidades no setor de Petróleo e Gás,
mas o profissional tem que estar qualificado

Frente a este cenário, se a Educação brasileira fosse mais desenvolvida, o país já teria se consolidado como uma das maiores economias do mundo para investidores externos e internos. Mas a carência educacional tem deixado muitos brasileiros à margem do crescimento. Mais de 22% das cerca de 25 milhões de pessoas que compõem a mão-de-obra disponível para integrar a força de trabalho do Brasil, em 2010, não estavam qualificadas para atender a demanda do mercado, de acordo com um relatório do governo, em março.
O presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), Márcio Pochmann, disse que “em algumas cidades e estados é um problema contratar trabalhadores, ainda que as vagas existam”. Estimativas anteriores mostraram que dezenas de milhares de vagas de empregos estão ociosas pela falta de profissionais qualificados para preenchê-las.
Analistas econômicos e sociais do BID afirmam que “se esta lacuna educacional não for preenchida, em breve, o Brasil poderá perder a oportunidade de crescimento que é uma realidade”. O ministro da Educação ameniza a situação e compara o Brasil aos seus principais concorrentes econômicos.
– Estamos tentando recuperar o tempo perdido. Num passado recente, enquanto outros países investiram em Educação, as autoridades não priorizaram essa área. Em pouco tempo, porém, o governo criou programas que oferecem, por exemplo, cerca de 700 mil bolsas de estudo para alunos de baixa renda em faculdades particulares – completa o Ministro, destacando que durante o governo Lula, foram criadas 180 escolas profissionalizantes (nos últimos 93 anos foram criadas 140).
Algumas correntes criticam a postura do presidente Lula, que não teria usado a tribuna para inspirar o país a se mobilizar pela Educação. “Como um líder que tem grande influência, ele não aproveitou esta oportunidade”. Outras correntes, porém, afirmam que a grande mídia não tem interesse em divulgar a fala do presidente sobre Educação.

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