Por Flávio Azevedo
Ao descobrirem que a próxima edição do jornal “O TEMPO EM RIO BONITO” teria a Educação como tema principal, a nossa redação recebeu uma série de denúncias sobre falta de professores, de merenda, e também sobre salas multisseriadas, fenômeno encontrado nas unidades escolares do interior. A dedicação ao magistério, o amor aos alunos, a responsabilidade com o que fazem e a preocupação com os estudantes, não segurou o silêncio dos professores. Apesar de dizerem durante todo tempo, que se forem descobertos sofrerão uma série de represálias, eles decidiram contar os problemas que enfrentam.
Depois de receberem garantias que as suas identidades seriam preservadas, a função que desenvolvem nas escolas não seria informada, e que os nomes das unidades escolares não seriam divulgados, um profissional revela que “os problemas enfrentados são sérios e não é de hoje!”. Sobre a falta de professores, os profissionais de Educação que conversaram com a nossa reportagem informaram que “como a Prefeitura Municipal chamou vários concursados, a situação não é a ideal, mas melhorou”.
– Algumas deficiências ainda podem ser encontradas, como a falta de professores de matemática. O problema é que nesse caso, especificamente, existe uma escassez desse profissional. Aliás, é um problema enfrentado em todas as escolas, seja ela estadual, municipal, ou até da rede particular – analisou um dos entrevistados.
“Falta tempero”
Outro profissional experimentado e com vários anos de atuação nas unidades escolares do município disse que outro problema que atinge as escolas é a falta de merenda. De acordo com ele, “geralmente tem a carne, feijão, arroz, óleo, sal, mas faltam temperos, condimentos e outras coisas necessárias para o preparo da merenda”. Questionado sobre o que fazer nessa hora, o profissional comentou que se recusa oferecer alimento feito na água e sal para os alunos. “Não, eu não tenho coragem de fazer isso!”. Segundo ele, é comum os profissionais da escola fazerem uma vaquinha para comprar o tempero que está faltando. “Isso não pode continuar! Alguém precisa fazer alguma coisa, mas nós não temos a quem pedir socorro”, disse indignado.
Como acontece com qualquer matéria de denúncia, onde as testemunhas ficam receosas de dar o seu nome, uma profissional comenta que “se souberem que eu abri a boca posso ser exonerada, mas me corta o coração ver os alunos sem merenda, só porque não tem tempero”.
– Não faz muito tempo, o prefeito José Luiz Antunes visitou a escola, perguntou se tinha merenda e mostraram a ele, a dispensa abastecida, os frízeres cheios de carne, mas faltavam cebola, alho, pimentão, tomate e temperos. Infelizmente, ele não observou isso. Por incrível que possa parecer, todas as vezes que ele visita a escola a dispensa fica sortida – revela a funcionária, reiterando que “isso acontece, porque o prefeito tem o hábito de comer a merenda, ou seja, se ele perceber algum problema, cabeças vão rolar”, comentou.
Ainda segundo a nossa fonte, ciente dos problemas relacionados à merenda, o porteiro da unidade, que também se alimenta na escola, comentou que “seria bom que o prefeito visitasse a escola todos os dias, só assim nós comeríamos uma comida melhor”. Os profissionais afirmam que as faltas, as necessidades, os defeitos, as torneiras quebras, as falhas no abastecimento de água e o que tem que ser concertado é informado a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), “mas os problemas se arrastam por meses para serem solucionados”, lamenta uma educadora.
“Pipoca é merenda?”
De acordo com uma mãe de aluno, que pediu para não ser identificada, segundo ela, porque é funcionária do município, “até pipoca já deram ao meu filho na hora do recreio. Também é comum oferecerem leite com biscoitos. É um absurdo isso!”.
– Na minha casa, só o meu filho mais novo não trabalha! Ou seja, nós temos condições de nos sustentar. Porém, eu já trabalhei em escolas freqüentadas por alunos que não conhecem essa realidade. Estamos falando de crianças que dependem da merenda para se alimentar, porque, em casa, eles não têm o que comer. Dar para essas crianças, no lugar de comida, leite com biscoito, pipoca etc., é falta de sensibilidade – criticou.
Outro entrevistado revela que as unidades do interior sofrem mais com o descaso. “Nos colégios e escolas do Centro, geralmente frequentados por alunos provenientes de famílias de melhores condições, esses problemas não acontecem com regularidade, mas nas escolas do interior a coisa anda feia!”, frisa a nossa fonte, acrescentando que a culpa não é dos diretores.
– A minha diretora, por exemplo, como muitas outras, é super dedicada, faz os relatórios, as solicitações devidas, gasta dinheiro do próprio bolso para comprar papel, material, fazer xerox, etc. O problema é que além de não darem definição para as reclamações, caso ela seja reiterada, o reclamante é enxergado na Semec como um chato ou integrante de grupos políticos que fazem oposição ao governo. Mas não é isso! Independente de quem está no governo, os alunos e os profissionais que cuidam delas deveriam ser mais respeitados – concluiu.
Nota da Redação: esse tipo de matéria, quase sempre, motiva uma ação chamada de “Caça as Bruxas”, quando os chefes, tentam descobrir quem forneceu, à imprensa, as informações publicadas. Contudo, ao invés de saírem caçando as nossas fontes, os caçadores de bruxas deveriam caçar os culpados pelos problemas denunciados e resolvê-los.
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