Metade dos estudantes de universidades brasileiras já utilizou drogas ilícitas em algum momento da vida. O dado, que preocupou especialistas no combate às drogas, integra o 1º Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários, um mapeamento inédito divulgado no dia 23 de junho pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).
Realizado com 18 mil alunos de 100 universidades públicas e privadas das 27 capitais do País, o estudo revelou ainda que o uso de substâncias proibidas é maior entre os universitários do Sudeste: 52,6% já experimentaram. Também divulgado no último dia 23 de junho, pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Relatório Mundial Sobre Drogas (WDR) 2010 aponta que o Brasil é o maior mercado consumidor de cocaína da América Latina, com 900 mil usuários.
Segundo a secretária adjunta nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, a entrada na universidade inaugura um período de maior autonomia do jovem, mas também de maior vulnerabilidade, tornando-os mais suscetíveis ao uso de drogas. O consumo é maior entre os universitários de instituições privadas (52%), da área de Humanas (50,5%), do período noturno (52,6%), assim como por universitários com idade acima dos 35 anos (59,8%).
A ingestão de álcool também é alta. Só na Região Sudeste, 33,6% dos entrevistados afirmaram ter bebido em excesso: mais de 5 doses no caso dos homens, num período de apenas 2 horas. No caso do tabaco, 47% já utilizaram, ao passo que 21% fazem uso regular.
Estresse e influência de colegas
Fundadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a psiquiatra Maria Thereza de Aquino classificou como preocupantes os resultados. “Fizemos uma pesquisa semelhante há 10 anos em quatro faculdades públicas de Medicina do Rio, e os resultados foram semelhantes. O estresse gerado pela faculdade e a influência dos colegas podem estar ligados ao consumo de drogas pelos universitários. As universidades brasileiras precisam desenvolver ações de orientação e prevenção voltada para os alunos”.
Segundo Arthur Guerra, professor da USP que participou da pesquisa, os universitários merecem atenção especial entre os usuários de drogas em geral: “Apresentam um consumo mais intenso e frequente que outras parcelas da população em geral”.
Quase 20% afirmam dirigir alcoolizados
A combinação de bebidas alcoólicas e direção também foi analisada. Segundo a pesquisa, 18% dirigiram sob efeito de álcool, enquanto 27% pegaram carona com motorista embriagado. No Sudeste, esses percentuais atingiram respectivamente 17% e 25%. Carlos Alberto Lopes, porta-voz da ‘Operação Lei Seca’, que desde março de 2009 reprime o uso de álcool por condutores, acredita que no estado do Rio já ocorre uma mudança no comportamento dos jovens. “Dentre 220 mil motoristas abordados, inclusive jovens, mais de 98% não apresentaram consumo de álcool”.
Um agente que participa das blitzes confirma que mais de 50% dos condutores pegos no bafômetro são jovens. “A maioria dos motoristas flagrados nas operações em que eu estive presente estavam na faixa entre 20 e 30 anos”, afirma o funcionário.
País é maior mercado consumidor de cocaína
O Relatório Mundial Sobre Drogas divulgado pela ONU aponta crescimento no consumo de drogas no Brasil. Com base em dados de 2008, o estudo revela que o país é o maior mercado de cocaína da América do Sul, com 900 mil usuários. As apreensões atingiram 20,4 toneladas, aumento de 21% em relação ao ano anterior. Na última segunda, a Polícia Federal apreendeu 1,5 toneladas da droga em navio que atracou no Porto de Santos. Segundo a ONU, a cocaína traficada no Brasil vem do Peru e da Bolívia.
A quantidade de maconha apreendida também cresceu. Só no dia 11 de julho de 2008, a polícia carioca apreendeu 1,5 toneladas de maconha no Morro da Mangueira. No último dia 2 de maio, mais uma tonelada foi apreendida pela Delegacia de Roubos e Furtos, desta vez em caminhão que transportava cebola na Via Dutra, altura de Nova Iguaçu.
O Brasil respondeu por 3% das apreensões da maconha no mundo, e o ecstasy apreendido chegou a 13 toneladas. O consumo de opiáceos, heroína e medicamentos à base de morfina, também é alto (640 mil pessoas ou 0,5% usam ao menos uma vez ao ano), com a maior taxa da América do Sul.
Matéria: Diego Barreto/O Dia
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