segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pág. 3 - Falta de qualificação profissional expõe perversidade política que domina Rio Bonito e região

Flávio Azevedo


Qualificação profissional deve ser a febre do momento, por conta das oportunidades que estão surgindo a reboque do Comperj.
               Emprego, geração de renda, qualificação profissional, petróleo, bons salários, Conleste, desenvolvimento, impactos, independencia financeira, Comperj, entre outros, são termos que passaram a fazer parte do dia-a-dia dos moradores de Rio Bonito e região, a partir do anúncio de que a Petrobras viria para Itaboraí construir o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj). Inicialmente seriam investidos cerca de US$ 8,4 bilhões no empreendimento. Porém, como a petrolífera decidiu dobrar a estrutura e a capacidade de produção do Comperj, os valores, hoje, já estão na casa dos US$ 20 bilhões.

Por conta do leque de oportunidades que irão surgir, a região do Comperj passou a ser tratada como uma mina de ouro. Se os otimistas apontam vantagens como geração de emprego e renda; bons salários; desenvolvimento; e anunciam a independencia financeira dos moradores da região; os pessimistas e céticos ressaltam que a busca por tudo isso vai elevar ainda mais a desiguldade social e trazer insoluveis e negativos problemas para setores como Meio Ambiente, Saúde, Transporte, Segurança, Habitação, Desenvolvimento Urbano, entre outros.

Pensando nisso, os líderes políticos da região se uniram em consórcio para cobrar dos governos, federal e estadual, investimentos nessa direção. Foi criado, em 2006, o Consórcio Intermunicipal do Leste Fluminense (Conleste). Para não ficar de fora da mídia, os vereadores das cidades do Conleste (Rio Bonito, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Tanguá, São Gonçalo, Itaboraí, Cachoeira de Macacu, Magé e Niterói), à época, criaram a União dos Vereadores do Leste Fluminense (Uvleste).

Todavia, seis anos depois, não se vê mudanças significativas na estrutura das cidades do Conleste. No último dia cinco de janeiro, na sede da Escola de Qualificação SoldaMaster, localizada no KM-263 da BR – 101, onde era o antigo salão de festas de Magnus Buffet, a nossa reportagem participou de uma palestra sobre a necessidade da qualificação profissional para se alcançar os empregos gerados pelo Comperj. A SoldaMaster é especializada em treinamento para formação de soldadores, através de cursos, teórico e prático, nos seguintes segmentos: TIG, Eletrodo Revestido, MIG/MAG e Arame Tubular. Concluído o curso, os aprovados recebem certificado de Participação e Qualificação.

Os empregos são muitos

Bancada de aulas práticas para os alunos do curso.
O palestrante foi o diretor da escola, o soldador Og Monteiro, que tem vasta experiência no setor, sendo um dos principais prestadores de serviço das empresas contratadas pela Petrobras para as obras do Comperj. “A nossa empresa também presta serviços de solda, temos credibilidade no mercado e a profissão de soldador é uma das mais procuradas”, disse Monteiro que fez uma revelação preocupante.
– Os empregos no Comperj são muitos, mas a carência de gente qualificada na região é maior. Com isso, muitos profissionais de outros estados estão sendo contratados. O Sindicato da categoria está fiscalizando – ele exige a contratação de profissionais da região –, mas como a carência é grande, ele (sindicato) terá que abrir mão, porque caso não faça isso, a construção do Comperj pode parar – revelou Monteiro.

Bons salários

O diretor da Escola Solda Master, Og Monteiro.
Acompanhado dos seus instrutores, Og Monteiro comentou que “o salário do soldador, dependendo da função, pode chegar a R$ 4 mil”. Ele contou a história de um dos seus ex-alunos.
– Ele (o ex-aluno) chegou aqui dizendo que trabalhava como garçom, fazia atividades freelancer (o popular biscate), tinha uma vida dura, mas em seis meses a realidade dele mudou. Ele chegou aqui no meio do ano passado, se qualificou, e, hoje, ele está empregado numa empresa importante ganhando cerca de R$ 3 mil por mês – revelou.
Durante a palestra, o diretor da escola e os instrutores, comentaram que não sabem por que as cidades da região não estão investindo pesado no setor de qualificação profissional. “Nós teremos obras por lá (Comperj) pelos próximos 20 anos. Começando, hoje, muita gente vai estar perto de se aposentar quando as atividades de mão de obra pesada se encerrar”, assegurou um dos instrutores.

Nota da Redação:

A falta de incentivo político à qualificação profissional dos moradores da região não é simples coincidência. Todos nós conhecemos a indústria do “favorzinho” que existe na porta dos políticos Brasil a fora. Em nossa região não é diferente. O indivíduo, porém, que tem um salário de R$ 3 mil mensais (além de benefícios, como Plano de Saúde, por exemplo), certamente não ficará se humilhando em porta de político pedindo favor, o que representa o fim do “voto de cabresto”.

Para nós do jornal “O TEMPO EM RIO BONITO”, a pessoa que sai de um salário mínimo (R$ 622,00) para ganhar mensalmente, R$ 3 mil, recebe uma espécie de “Carta de Alforria”, porque ela passa a caminhar com as próprias pernas, livra-se do cabresto do “favorzinho” e passa a pensar com o próprio cérebro, o que não é possível acontecer quando se está encabrestado e/ou devendo favor.

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