terça-feira, 27 de março de 2012

Pág. 16 - Morre Aécio Mansur e parte da história viva de Rio Bonito

Flávio Azevedo

Aécio Mansur e a esposa Aidélia, uma convivência de 50 anos.
Rio Bonito perdeu no último dia 22 de fevereiro, vítima de complicações hepáticas, o tradicional e estimado comerciante Aécio Mucio Mansur. Uma das figuras mais tradicionais da cidade, ele deixa consternados os seus familiares e uma legião de amigos que cultivou ao longo dos seus 78 anos de vida. Riobonitense ‘roxo’, como o descreve um dos seus filhos, ele era um fã incondicional da sua cidade, da qual adorava relatar fatos históricos e pitorescos.

Um desses casos aconteceu por volta das 16h do dia 13 de janeiro de 1939, quando o avião, prefixo PP-CAY Marimbá, depois de um voo rasante sobre a Serra do Sambê caiu na mata fechada. A queda foi seguida de grande explosão. Testemunhou a história certo José Picorelli, empregado de uma empresa italiana que explorava carvão na Serra do Sambê. Ele teve a sua atenção despertada pelos ruídos dos motores da aeronave que, segundo ele, voava muito baixo.

Apesar da dificuldade de acesso, José Picorelli chegou ao local da queda apenas para constatar que o avião, um Junkers JU-52, da empresa Condor, havia se transformado em destroços fumegantes. Certo de que não havia sobreviventes, entre as sete pessoas que viajavam na aeronave, Picorelli decide partir para Rio Bonito, um trajeto difícil e distante. O objetivo: informar o ocorrido às autoridades.

Aquela trágica e chuvosa tarde de sexta-feira nunca mais saiu da cabeça do comerciante Aécio Mansur, que embora fosse, à época, um menino de cinco anos, nunca deixou de narrar a agitação que tomou conta da cidade por conta da tragédia. O comércio local funcionou até alta madrugada. Inúmeras pessoas, grande maioria não mais presente entre nós, foram até o local da queda do Marimbá. O imaginário de criança do pequeno Aécio foi alimentado pelo que ele viu e pelo que ouviu dos seus pais, Nilce e Moysés Mansur. A partir desse dia, ele se tornou um dos narradores mais entusiasmados do episódio que, talvez, seja o mais comentado e pesquisado da história de Rio Bonito.

“Um homem simples”

O avião Marimbá, constante personagem das histórias
narradas por Aécio Mansur. 
A disposição que o comerciante Aécio Mansur dispunha para contar as suas histórias deixava patente a sua principal característica: a simplicidade. “Era um amigo da família, amigos dos amigos e amigos da sua cidade. A sua partida abre um vácuo de saudade e leva um pouco da história viva de Rio Bonito”, comenta um familiar.

A trajetória de Aécio Mansur se mistura a história de Rio Bonito. Sócio benemérito do Esporte Clube Fluminense, ele foi uma das figuras que muito contribuiu para o soerguimento do tricolor riobonitense durante a gestão do saudoso advogado Benedito Caridade. A sua importância foi reconhecida pela Câmara de Vereadores, que indicou o seu nome para a Praça do Green Valley.

Casado por 50 anos com Aidélia Elias Mansur, o casal teve três filhos (Táina, Aécio e Gibran), que lhes deram cinco netos. Também conhecido pelo espírito empreendedor, ele foi o proprietário da primeira máquina de beneficiamento de arroz de Rio Bonito, entre os anos 50 e 60; foi um grande exportador de urucum, matéria prima do condimento Colorau; foi um dos fundadores do Clube dos Bancários; e proprietário da Casa Mansur entre os anos de 54 e 76.

No livro “Curriola”, do poeta Leir Moraes, Aécio Mansur é o personagem “Montanha”, apelido que ganhou por conta da sua avantajada força física, uma das suas marcas na juventude. Seu Aécio Mansur, como era carinhosamente chamado, deixa saudades, entre outras coisas, pela sua vocação à benemerência e notado espírito público.

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