segunda-feira, 6 de maio de 2013

Pág. 18 - Fragmentos da história de Rio Bonito

*Dawson Nascimento

Todo ano, no dia 7 de Maio, se comemora a festa Cívica de aniversário de Rio Bonito. Bem, isso é verdade; mas é só um aniversário de emancipação político e administrativo, o que é muito importante, pois foi um acontecimento histórico, político, social e cultural. Historicamente, na maioria das cidades só é comemorado o aniversário de sua emancipação político administrativa.

Outro dia eu fiz a seguinte pergunta a algumas pessoas: “com que idade você se emancipou?”. Uma delas me perguntou: “o que é isso?”. Eu lhe perguntei de maneira diferenciada: “com qual idade você se tornou independente de seus pais, com condições de se sustentar e conquistar seus objetivos, estando casado ou não?”. Alguns me responderam: “eu me emancipei com 20 anos”, outro me respondeu, “com 19 anos”... Bem, é interessante, e ao mesmo tempo curioso, quando se trata da história de Rio Bonito anterior a sua emancipação, porque paira ainda no céu do conhecimento uma densa neblina histórica. 

Mas qual será a verdadeira idade de Rio Bonito? Quando começou a sua história realmente? Quem eram seus pais? Quem foram os primeiros povoadores de nossa terra? Esse questionamento é só um ponto de interrogação entre muitos outros que carecem de respostas.

Há alguns anos eu venho estudando e pesquisando, em várias fontes primárias, Arquivos Eclesiásticos, Arquivo dos Cartórios, do 1º e 2º ofício, Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Arquivo Ultramarino, Torre do Tombo de Portugal, Arquivo da Mitra Arqueodicesana do Rio de Janeiro e Niterói, Almanaque Mercantil do Império, Cartas Cartográficas, descritivas do estado do Rio de Janeiro; Cartas de Sesmarias, concedidas no Estado do Rio de Janeiro.

Em contato com esse rico e diversificado acervo, eu encontrei muitas informações que ainda não haviam sido publicadas. Com isso, eu realizei várias exposições itinerantes que percorreram as escolas, igrejas, agências bancárias e outros espaços públicos, para compartilhar as informações contidas nesses acervos. E em comemoração ao aniversário de emancipação de Rio Bonito, esta é uma pequena homenagem a terra em que nasceram os nossos pais, avós e na qual nós estamos plantados e enraizados.

As origens históricas de Rio Bonito remontam ao século XVI, no que tange as primeiras doações de terras em seu território. Os primeiros contemplados com terras nessa região foram os padres da Companhia de Jesus (Jesuítas), que receberam terras no ano de 1578. Analisem comigo! 

1º – 1578, entre as Serras de Tapacorá (hoje conhecida por Serra do Barbosão) e Serra do Sambê, entre os rios, Tanguá e Cacerebú, conforme consta no livro de tombo dos Jesuítas (Anais da Biblioteca Nacional). Alguns desses sesmeeiros eram naturais de Tanguá, Itaboraí, Santo Antônio de Sá e deixaram grande descendência até os dias atuais;
2º – Gabriel Martins, em 08/04/1579. 1500x2000 braças pelo rio Cacerebú acima;
3º – Mais uma sesmaria dos Jesuítas, em 24 de Novembro de 1623, nos campos do rio Bacaxá;
4º – Gregório Lopes de Cerqueira e Hipólito Lopes, em 1633, nos campos do rio Bacaxá e rio das Domingas. José Lopes Esperto, por volta de 1640, nos sertões da Serra do Sambê e Braçanã;
5º – Francisco Pegado Monteiro, em Tapacurá, em terras que haviam sido dadas a José Lopes Esperto, em 17 de Janeiro de 1678;
6º – Pedro de Souza Pereira, terras nos campos de Tapacurá e rio Cacerebú, em 22 de Outubro de 1682;
7º – José carvalho de Oliveira, no dia 7 de Janeiro de 1729, terras nos campos do rio Bacaxá;
8º – Felipe Soares Louzada, no dia 9 de Janeiro de 1720, 3000 mil braças em quadra no rio Bacaxá. Ainda no ano de 1729, outros sesmeeiros receberam terras nas margens do rio Bacaxá;
9º – Pedro Freire Ribeiro, recebeu terras no dia 13 de Abril de 1746, nas imediações dos rios Tanga, Seco e Mata;
10º – No dia 23 de Outubro de 1749, João Freire de Azeredo Coutinho, recebeu sesmaria de terras nas imediações dos rios, Bacaxá, Kágado e Seco; 
11º – Capitão Mór Gregório Pereira Pinto, recebeu terras no rio do Ouro, por volta de 1750, onde edificou fazenda e engenho denominado “Rio do Ouro”. Muitos outros receberam terras de mão beijada no imenso território de Rio Bonito, edificando fazendas e engenhos de açúcar.

Desde o ano de 1760, a região já era chamada de Rio Bonito, então freguesia da Vila de Santo Antônio de Sá, a segunda vila fundada depois do Rio de Janeiro. Ela ficava localizada entre os rios Caseribú, na sua frente; e nos fundos, o rio Macacú. As freguesias (pequenos povoados) de Itaboraí, Santíssima Trindade, Rio Bonito, Tapacorá (atual Tanguá) eram subordinadas a sua administração.

Nesse início da povoação, a convivência social entre as famílias só aconteciam por ocasião dos festejos religiosos que aconteciam nos oratórios das fazendas, batismos, casamentos e até velórios.

Por volta de 1759, os principais fazendeiros de Rio Bonito eram Gregório Pereira Pinto, no Rio do Ouro; Manoel de Souza Couto, no Rio Seco; João Pedro Braga, em Patíz; Francisco Marinho Machado, em Basílio; Francisco Pereira dos Santos, no Rio dos Índios; João Caetano Ribeiro, em Lagoa Verde; Clemente de Castro Gomes, no Rio Seco; entre outros.

Já no ano de 1762, o número de fazendas, engenhos, currais de gados e pequenos lavradores se expandiam consideravelmente. A produção, além do gado, era de vacum, açúcar, milho, farinha de mandioca, feijão e madeira de lei. Tudo era transportado por pequenas estradas abertas em meio as matas e charcos da região. O meio de transporte eram carros de bois, lombos de burros e em canoas nos pequenos portos existentes nas margens dos rios, Cacerebú, Macacú, Mutuapira e outros, até o Porto das Caixas, que era o maior entreposto comercial da região.

Em 1762, Gregório Pereira Pinto fundou, na Fazenda do Rio do Ouro, uma capela a santa de sua devoção, denominada Madre de Deus (que é o mesmo que mãe de Deus). Essa capela foi a primeira edificada em Rio Bonito e funcionou como matriz provisória. Em 1794, na freguesia de Rio Bonito existiam 300 moradias espalhadas em seu território, com 1954 habitantes, sendo 970 escravas e 940 pessoas livres. (Memórias Históricas de Monsenhor Pizarro-Pag-486).

Até o ano de 1833, Rio Bonito era subordinada a Santo Antônio de Sá. No dia 22 de Maio de 1833, porém, Itaboraí é elevada a categoria de vila e a freguesia de Rio Bonito passa a fazer parte do seu território e administração. Rio Bonito, ainda sob o domínio administrativo de Itaboraí, se destacou e conseqüentemente começa almejar a sua emancipação político administrativo, pois o território já possuía mais de 200 fazendas produzindo muito café, mais de 20 engenhos, que produziam açúcar, aguardente com  abundância e outros grãos.

Essa situação perdurou até o ano de 1846, pois em Maio desse ano, Rio Bonito alcançou sua emancipação política e administrativa e foi elevada a condição de Vila, completando no próximo dia 7 de maio, 167 anos.
Parabéns Rio Bonito!

*Dawson Nascimento é pesquisador, músico, compositor e artesão.

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