*Francisco Azevedo
O avô e o neto passeavam na avenida
Ambos sentindo o olor que o tempo
exala
O neto, esperto, a saltar cheio de
vida
O velho, lento, se apoiando na
bengala.
“Corre vovô!”, diz o menino travesso;
“Calma, não corra!”, diz o avô a
meditar;
Na caminhada pode haver muitos
tropeços
Para onde vamos, todos nós vamos
chegar.
“Seu picolé ainda está pela metade...
O meu se foi!”, diz o neto muito vivo!
“Muitos sorvetes já provei na minha
idade,
Doces e amargos”, diz o avô pensativo.
Senti do tempo a chibata inclemente
Cruel algoz, que castiga sem cessar
Que vai sugando devagar nossa patente
Até em nada nosso vigor transformar.
Você menino que, hoje, corre aos
pinotes
Ande a direita, nunca use a contramão
Junto à velhice chega a honra como
sorte
Pra quem na vida caminhar com retidão.
Foram-se os dentes, os cabelos, a
destreza...
Ouça, meu neto, a minha sinceridade
Perdi a força e os traços da beleza
Mas não perdi a honra e a integridade!
Francisco Azevedo é poeta, compositor,
músico e letrista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário