quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pág. 23 - O avô e o neto


*Francisco Azevedo

O avô e o neto passeavam na avenida
Ambos sentindo o olor que o tempo exala
O neto, esperto, a saltar cheio de vida
O velho, lento, se apoiando na bengala.

“Corre vovô!”, diz o menino travesso;
“Calma, não corra!”, diz o avô a meditar;
Na caminhada pode haver muitos tropeços
Para onde vamos, todos nós vamos chegar.

“Seu picolé ainda está pela metade...
O meu se foi!”, diz o neto muito vivo!
“Muitos sorvetes já provei na minha idade,
Doces e amargos”, diz o avô pensativo.

Senti do tempo a chibata inclemente
Cruel algoz, que castiga sem cessar
Que vai sugando devagar nossa patente
Até em nada nosso vigor transformar.

Você menino que, hoje, corre aos pinotes
Ande a direita, nunca use a contramão
Junto à velhice chega a honra como sorte
Pra quem na vida caminhar com retidão.

Foram-se os dentes, os cabelos, a destreza...
Ouça, meu neto, a minha sinceridade
Perdi a força e os traços da beleza
Mas não perdi a honra e a integridade!

Francisco Azevedo é poeta, compositor, músico e letrista.

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