Flávio
Azevedo
Circulando
apenas na internet, uma matéria produzida por profissionais de imprensa ligados
aos partidos, Democrático Trabalhista (PDT) e da República (PR), tem causado
indignações em internautas Brasil afora. De acordo com a reportagem, as
eleições brasileiras estão sendo fraudadas e o sistema eletrônico não é tão
seguro como garante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As revelações foram
feitas por um hacker durante o seminário “A urna eletrônica é confiável?”. O
evento aconteceu no auditório da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio
de Janeiro (SEAERJ), no último dia 10 de dezembro.
Acompanhado
pelo especialista em transmissão de dados, Reinaldo Mendonça; e pelo delegado
de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker de 19 anos,
identificado, por questões de segurança, apenas como Rangel, mostrou como – através
de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral, no Rio de
Janeiro, sob a responsabilidade técnica da empresa Oi – interceptou os dados
alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio desses dados
aos computadores da Justiça Eleitoral, modificou resultados, sem que nada fosse
oficialmente detectado.
–
A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo
transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram
transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está
prestes a ser fechada – afirmou Rangel, ao detalhar em linhas gerais como atuava
para fraudar resultados.
O
depoimento do hacker – disposto a
colaborar com as autoridades – foi chocante até para os palestrantes do
seminário. Personalidades como a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há
dez anos representa o PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos
relacionados à urna eletrônica; o professor da Ciência da Computação da
Universidade de Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda as
fragilidades do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos; e o
jornalista Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro Burla
Eletrônica, escrito em 2002, ao término do primeiro seminário independente
sobre o sistema eletrônico de votação em uso no país desde 1996, ficaram
impressionados com as revelações do hacker.
Segundo
informações dos organizadores do seminário, Rangel vive sob proteção policial e
já prestou depoimento a Polícia Federal. Ele declarou que não atuava sozinho.
De acordo com o hacker, ele fazia parte de um pequeno grupo que, através de
acessos privilegiados à rede de dados da Oi, alterava votações antes que elas
fossem oficialmente computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
O
hacker revelou que a fraude
beneficiava políticos com base eleitoral na Região dos Lagos. Um dos supostos beneficiários
seria o presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
(Alerj), o deputado Paulo Melo (PMDB). Depois de fazer algumas perguntas a
Rangel, a deputada Clarissa Garotinho, presente no seminário, disse que se
informará mais sobre o assunto e garantiu que não pretende deixar a denúncia do
hacker cair no vazio.
O
coordenador do seminário, Fernando Peregrino cobrou providências. “Um crime
grave foi cometido nas eleições municipais deste ano e Rangel está denunciando
com todas as letras, mas infelizmente até agora a Polícia Federal não tem dado
a importância que este caso merece, porque atinge a essência da própria
democracia no Brasil, o voto dos brasileiros”, analisou.
“O sistema é falho”
O
professor Pedro Rezende, especialista em Ciência da Computação, professor de
criptografia da Universidade de Brasília (UnB), mostrou o trabalho permanente
do TSE em “blindar” as urnas em uso no país, apresentadas sempre como 100%
seguras. Para Rezende, porém, elas são “ultrapassadas e inseguras”. O professor
comparou com sistemas de outros países, para ele mais confiáveis; e destacou as
urnas eletrônicas de terceira geração usadas em algumas províncias argentinas,
que além de imprimir o voto, registram esse mesmo voto num chip que fica embutido
na cédula, criando uma dupla segurança.
O
coordenador do seminário, Fernando Peregrino, informou que o assunto será
transformado em livro, ganhará um documentário e dará origem a outros encontros
sobre o tema, “porque está longe de estar esgotado”. Ele afirmou ainda, que vai
levar a denúncia do hacker às últimas conseqüências e garantiu se considerar um
militante pela transparência das eleições brasileiras. “Estamos comprometidos
com a transparência do sistema eletrônico de votação e com a democracia”,
concluiu.
Preocupação
sob os panos
Não é de hoje que a segurança das
urnas eletrônicas é questionada no Brasil. Em março de 2012 um grupo da
Universidade de Brasília (UnB) conseguiu quebrar a segurança da urna
eletrônica, em testes promovidos pelo próprio TSE. Eles conseguiram recuperar a
sequência dos votos, o que, ao menos em tese, permite violar o sigilo das
opções de cada eleitor. Foram recuperados 474 de 475 votos de uma eleição, na
ordem em que foram inseridos na urna. A revelação foi do coordenador do grupo, Diego
Freitas Aranha, professor de Ciência da Computação da UnB, que fez
doutorado em criptografia pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Originalmente o plano de teste previa
a recuperação de 20 votos, mas o próprio TSE desafiou o grupo a resgatar 82% dos
votos de uma fictícia sessão eleitoral com 580 inscritos – percentual que
equivale à média de comparecimento nas eleições brasileiras. O tempo limitado
de acesso à urna eletrônica – três dias – impediu avanços ainda mais
significativos na quebra da segurança do sistema eletrônico de votação (o
fraudador, porém, tem tempo de sobra).
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