segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pág. 11 - Hacker de 19 anos revela no Rio como fraudou eleição


Flávio Azevedo

Circulando apenas na internet, uma matéria produzida por profissionais de imprensa ligados aos partidos, Democrático Trabalhista (PDT) e da República (PR), tem causado indignações em internautas Brasil afora. De acordo com a reportagem, as eleições brasileiras estão sendo fraudadas e o sistema eletrônico não é tão seguro como garante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As revelações foram feitas por um hacker durante o seminário “A urna eletrônica é confiável?”. O evento aconteceu no auditório da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (SEAERJ), no último dia 10 de dezembro.

Acompanhado pelo especialista em transmissão de dados, Reinaldo Mendonça; e pelo delegado de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker de 19 anos, identificado, por questões de segurança, apenas como Rangel, mostrou como – através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral, no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade técnica da empresa Oi – interceptou os dados alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio desses dados aos computadores da Justiça Eleitoral, modificou resultados, sem que nada fosse oficialmente detectado.
– A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser fechada – afirmou Rangel, ao detalhar em linhas gerais como atuava para fraudar resultados.

O depoimento do hacker – disposto a colaborar com as autoridades – foi chocante até para os palestrantes do seminário. Personalidades como a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há dez anos representa o PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos relacionados à urna eletrônica; o professor da Ciência da Computação da Universidade de Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda as fragilidades do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos; e o jornalista Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro Burla Eletrônica, escrito em 2002, ao término do primeiro seminário independente sobre o sistema eletrônico de votação em uso no país desde 1996, ficaram impressionados com as revelações do hacker.

Segundo informações dos organizadores do seminário, Rangel vive sob proteção policial e já prestou depoimento a Polícia Federal. Ele declarou que não atuava sozinho. De acordo com o hacker, ele fazia parte de um pequeno grupo que, através de acessos privilegiados à rede de dados da Oi, alterava votações antes que elas fossem oficialmente computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

O hacker revelou que a fraude beneficiava políticos com base eleitoral na Região dos Lagos. Um dos supostos beneficiários seria o presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo (PMDB). Depois de fazer algumas perguntas a Rangel, a deputada Clarissa Garotinho, presente no seminário, disse que se informará mais sobre o assunto e garantiu que não pretende deixar a denúncia do hacker cair no vazio.

O coordenador do seminário, Fernando Peregrino cobrou providências. “Um crime grave foi cometido nas eleições municipais deste ano e Rangel está denunciando com todas as letras, mas infelizmente até agora a Polícia Federal não tem dado a importância que este caso merece, porque atinge a essência da própria democracia no Brasil, o voto dos brasileiros”, analisou.

“O sistema é falho”

O professor Pedro Rezende, especialista em Ciência da Computação, professor de criptografia da Universidade de Brasília (UnB), mostrou o trabalho permanente do TSE em “blindar” as urnas em uso no país, apresentadas sempre como 100% seguras. Para Rezende, porém, elas são “ultrapassadas e inseguras”. O professor comparou com sistemas de outros países, para ele mais confiáveis; e destacou as urnas eletrônicas de terceira geração usadas em algumas províncias argentinas, que além de imprimir o voto, registram esse mesmo voto num chip que fica embutido na cédula, criando uma dupla segurança.

O coordenador do seminário, Fernando Peregrino, informou que o assunto será transformado em livro, ganhará um documentário e dará origem a outros encontros sobre o tema, “porque está longe de estar esgotado”. Ele afirmou ainda, que vai levar a denúncia do hacker às últimas conseqüências e garantiu se considerar um militante pela transparência das eleições brasileiras. “Estamos comprometidos com a transparência do sistema eletrônico de votação e com a democracia”, concluiu.

Preocupação sob os panos

Não é de hoje que a segurança das urnas eletrônicas é questionada no Brasil. Em março de 2012 um grupo da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu quebrar a segurança da urna eletrônica, em testes promovidos pelo próprio TSE. Eles conseguiram recuperar a sequência dos votos, o que, ao menos em tese, permite violar o sigilo das opções de cada eleitor. Foram recuperados 474 de 475 votos de uma eleição, na ordem em que foram inseridos na urna. A revelação foi do coordenador do grupo, Diego Freitas Aranha, professor  de Ciência da Computação da UnB, que fez doutorado em criptografia pela Universidade de Campinas (Unicamp).

Originalmente o plano de teste previa a recuperação de 20 votos, mas o próprio TSE desafiou o grupo a resgatar 82% dos votos de uma fictícia sessão eleitoral com 580 inscritos – percentual que equivale à média de comparecimento nas eleições brasileiras. O tempo limitado de acesso à urna eletrônica – três dias – impediu avanços ainda mais significativos na quebra da segurança do sistema eletrônico de votação (o fraudador, porém, tem tempo de sobra).

Nenhum comentário:

Postar um comentário