sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Zagueiro riobonitense Welinton admite entrar em campo tenso para defender o Flamengo

Welinton entra em campo tensi para defender o Fla
Welinton é o culpado. A sentença vem antes mesmo do apito inicial do árbitro. Aos 22 anos, o menino que sonhava ser ídolo do Flamengo foi eleito o vilão por grande parte da torcida rubro-negra. As vaias começam no anúncio da escalação e seguem durante a partida. Com 97 jogos pelo profissional, sendo 86 como titular, nem mesmo os números parecem servir como argumento de defesa.

O jogador que chegou à Gávea sem o tradicional bilhete de indicação conquistou seu espaço nas divisões de base, ganhou títulos nas categorias infantil, juvenil e juniores e foi campeão Sul-Americano pela Seleção Brasileira sub-20. Mas não adianta. No julgamento da torcida, Welinton é o culpado.

Com a voz serena – bem diferente do tom das vaias e gritos que pedem sua saída do time – Welinton não polemiza, mas desabafa. Diz que sente o peso da perseguição, revela a aflição dos pais, Antônio e Rosa, e o apoio da mulher, Talita.

O zagueiro lembra o caso de Adriano que, com 19 anos, deixou a Gávea em 2001 execrado para voltar como Imperador em 2009. “Não erro porque quero. Só o Weliton que é Cristo, que não presta. Não precisa gostar de mim porque estou pedindo. Quero apenas fazer meu trabalho para tentar dar alegrias”, disse o zagueiro.

Welinton quer provar que não é o culpado. E se dá o direito de sonhar com um dia de herói.

GLOBOESPORTE.COM: Como começou sua carreira de jogador de futebol?

WELINTON: Comecei ainda moleque no futsal, no Tanguá, lá em Rio Bonito. Fui aprender a jogar futebol ali, o professor viu que eu tinha qualidade, mas que precisava melhorar algumas coisas. Depois passei para o campo. Assim, comecei a sonhar, o que eu poderia ser um dia.

E o sonho de jogar no Flamengo, começou quando?

Fui disputar um torneio em Friburgo, contra Vasco, Flamengo e os outros grandes clubes do Rio. Naquela época, eu tinha dez anos e o Flamengo fez uma sondagem, mas nada se concretizou. Meu pai conhecia uma pessoa ligada ao futebol do Tanguá e disse que poderia aparecer a oportunidade de fazer teste em algum time grande. Com 12 anos, ouvi a promessa de jogar no Flamengo. Passaram alguns meses e nada. Tinha um amigo meu, Max, que era de Tanguá e jogava na Gávea. Como a promessa não foi cumprida, o Max disse que tinha um conhecimento e que poderia arrumar uma data para eu fazer um teste.

Você, então, chegou ao clube por indicação?

Não. Conversei com meu pai e ele disse se tiver que acontecer, a gente dá um jeito. O Max disse que conseguiu que eu fizesse um teste, mas não era nada muito certo. Ele deixou claro que de repente eu chegaria lá e abririam as portas ou nem olhariam na minha cara. Todo mundo vai com olheiro, indicação. Eu, não. Cheguei e todos tinham um papel de indicação, tudo certinho, só eu que era errado na história. Conversei com o professor, que era o Mauro Felix, ele disse que eu não tinha sido indicado por ninguém, mas que todos merecem oportunidade. Fiz testes como lateral.

E como passou a ser zagueiro?

O professor perguntou se eu poderia jogar como zagueiro pela boa estatura. Disse que tentaria. Não fui tão mal, mas também não sei se fui tão bem (risos). Tinha dificuldades para pagar a passagem, acordar cedo todo dia, estudar ao mesmo tempo. Passou um tempo e fui federado como infantil e logo estava na concentração. Pura alegria. Cresci dentro do clube, participei de competições, ganhei campeonatos no juvenil, infantil e juniores. Isso foi importante para chegar ao profissional

E quando chegou ao time profissional?

Aconteceu, pois estava aparecendo bem nos juniores. Eles sempre sobem jogadores por conta de lesões, cartões, e você ganha oportunidade. Nos juniores você já é maduro em relação ao infantil, ao juvenil. A primeira vez foi com Joel Santana, fiquei dois meses no profissional, em 2007. Mas eu era muito garoto (17 anos). Voltei para os juniores porque era muito novo. Foi minha primeira experiência. Passou um tempo, fui convocado para a Seleção Brasileira e acabei campeão sul-americano. Quando voltei, tinha maior rodagem e fiquei no profissional de vez em 2009, com o Cuca.

E desde o início você conviveu com a pressão que ronda um jogador do Flamengo?

Você imagina logo ser um grande jogador do Flamengo, o sonho de moleque está logo ali. O jogador quer fazer tudo ao mesmo tempo, ser conhecido, mostrar tudo dentro de campo. Com o tempo você entende que a coisa é diferente, e também muito séria. Não é assim: chega, vai entrar, jogar, ser idolatrado. Peguei um momento legal, o time estava para ser campeão carioca, cheguei na metade do segundo turno do Carioca de 2009. Aprendi com os grandes zagueiros, Fábio Luciano e Ronaldo Angelim. Foi importante fazer parte daquele grupo.

O zagueiro Welinton treinando no Flamengo
Como você lida com a pressão que sofre no Flamengo, sendo sempre muito vaiado e criticado, o principal vilão?

É complicado. Ninguém sonha chegar ao profissional e, em vez de ser idolatrado, você entra em campo e a torcida fala: “Welinton vai jogar, Welinton vai estar em campo, vai dar errado”. Entro com um pouco de receio, tenso, mas eu penso que tenho que fazer o meu melhor, ajudar meus companheiros. O professor Luxemburgo sempre me dá moral, passa tranquilidade. É ruim ter essa desconfiança de todos da torcida. Se eu dou um chutão, estou errado, se saio jogando é sempre aquele “ahhhh”... dou um passe para o companheiro que está apertado pela marcação, mas sei que ele tem qualidade para fazer a jogada, e a torcida já acha que eu errei. Essa pressão é ruim.

Como sua família reage diante disso?

Nenhum pai, mãe ou esposa gosta de ouvir isso. Imagina para o pai ver o filho entrando em campo sendo vaiado por milhares de torcedores. Não fico à vontade. Às vezes é um pouco demais, pois sempre me esforço. Eu me apego a minha esposa, que diz que sou um grande homem, um grande jogador, que estará comigo nas vitórias e derrotas, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza. Ela fala para eu não me acovardar.

Os números mostram que você foi titular em grande parte dos jogos...

O Luxemburgo me dá crédito, passa confiança, o grupo me apoia e dá tranquilidade. Tenho os números ao meu favor. Não é possível jogar 100 jogos e não ter falhas. Você é um ser humano, não uma máquina que colocam ali, programam e não vai ter erro nenhum. Existem erros e acertos, futebol é isso. Não é possível que eu tenha tudo de ruim, não está tudo errado. Eu acerto também. Sou ser humano e também tenho qualidades.

Você teme que a pressão, as vaias prejudiquem sua carreira?

Em 2012, estarei com 23 anos, idade olímpica. Sonho estar nas Olimpíadas, defender o meu país é importante. Mas claro que essa pressão, as vaias e desconfiança podem atrapalhar. O técnico que vê de fora sabe que tenho idade, mas sou contestado, a torcida não gosta. Ele vai pensar: se a torcida pega no pé desse jogador, alguma coisa tem. Mas vendo com bons olhos, acompanhando, quem sabe não aparece uma oportunidade?

Em meio ao turbilhão de críticas você pensou em desistir de tudo, sair do Flamengo?

Não teve uma ou duas vezes de maior pressão. Vou citar o Flamengo e Vasco, que eu errei (saiu jogando nos pés de Diego Souza, cometeu falta e foi expulso). Já vinha desgastado da torcida, bastante coisa que atrapalhava, entrava em campo já vaiado. Tudo é o Welinton. Antes, o time estava com uma sequência legal de jogos, vitórias e ainda tinha crítica, gente pegando no meu pé. Agora perde, a culpa é do Welinton. Começa o jogo, sou titular e o torcedor: “Como vai ganhar com o Welinton, como vai dar certo?” Quando estava ganhando, eu também estava jogando. Trabalho com calma, os elogios vão voltar e o time vai vencer.

Já aconteceu com jogadores como Adriano saírem do clube execrados pela torcida e depois voltarem como ídolos. O Luxemburgo disse que seu futuro deve ser longe do Flamengo...

Tive propostas de Napoli, Stuttgart e Catania. A torcida deveria dar valor agora, não mais tarde. Se um dia jogar num grande clube do exterior, quero voltar para o Flamengo e ser idolatrado pela torcida. Mas penso no momento atual. Estou no Flamengo, disputando um Brasileiro, um dos campeonatos mais difíceis do mundo. Temos grandes jogadores que saíram daqui vaiados, que não valiam nada – como sou hoje – e depois voltaram a preço de ouro e considerados importantíssimos.

Quais são suas qualidades e defeitos?

Sou rápido e bom na bola aérea, tenho uma qualidade razoável, saio jogando ou dou chutão, como o professor manda. Dizem que estou nervoso, dando chutão, mas isso também é orientação. Posso melhorar nos passes bobos, a marcação mais perto, firme, encostando no atacante. Talvez deva falar mais em campo, orientar os companheiros. Posso melhorar. Sempre procuro melhorar para ajudar o Flamengo.

O grande vilão eleito pela torcida sonha um dia ser herói?

Luto para melhorar, para dar alegrias ao torcedor. Quem não sonha um dia ser herói, fazer um gol de título e entrar para a história de um clube? Todo mundo almeja isso. Quem sabe não faço o gol que vai dar o título brasileiro ao Flamengo?

Qual o recado que você mandaria para a torcida?

Para ter mais calma, paciência. Sou jovem, não erro porque quero. Cometi erros, mas é preciso apoiar todos os jogadores. Só o Weliton que é Cristo, que não presta. Isso atrapalha todo o time, porque é chato ver um companheiro seu ser vaiado dentro de campo. Todo mundo quer ajudar, estar junto para um objetivo só, que é vencer. Não precisa gostar de mim porque estou pedindo. Quero apenas fazer meu trabalho para tentar dar alegrias.

Welinton no profissional

97 jogos; 50 vitórias; 32 empates; 15 derrotas; Titular em 86 jogos; 2 gols; 101 gols sofridos e 39 jogos sem levar gol.

Welinton em 2011

46 jogos; 24 vitórias; 18 empates; 4 derrotas; Titular em 45 jogos; 43 gols sofridos; 22 jogos sem sofrer gol; 1 gol marcado.

Títulos na base

Juvenil: campeão da Taça BH e campeão Carioca.
Juniores: bicampeão da OPG, campeão da Copa Cultura, três títulos cariocas e terceiro colocado no Mundial da Malásia

Seleção Sub-20:

Campeão do Sul-Americano

Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário