quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pág. 13 - O brasileiro está endividado

Moysés Dário Alves - Artigo

Moysés Dário Alves
Alfredo, 32 anos, acaba de ser promovido à gerente e recebe um aumento de R$ 700,00, totalizando uma renda bruta de R$ 1,9 mil por mês. Ele é casado com Maria, que está grávida e trabalha na Prefeitura, onde recebe, por mês, R$ 550,00. Com a promoção de Alfredo, o casal resolve trocar de carro. Com a facilidade de crédito, eles resolvem realizar um sonho antigo e adquirir o seu primeiro veículo 0 km, contratando uma prestação de R$ 790,00 por 60 meses, sem entrada.

Com o carro vieram o seguro e o IPVA, que somados ao aluguel, luz, telefone, condomínio e alimentação passaram a consumir 70% da renda do casal. Com a descoberta da gravidez, vem a necessidade de montar o quarto do bebê. Como o casal praticamente não possui reservas financeiras, resolve montar todo o quarto numa mesma loja, que oferece condições especiais de pagamento.

Após um orçamento, o casal negocia um prazo maior de pagamento com a loja para que a prestação diminua o suficiente para se enquadrar dentro dos 30% da renda mensal disponível, mesmo que a taxa de juros seja um bem maior. O casal, porém, não se importa de pagar mais juros, desde que a prestação se enquadre no seu orçamento.

Sempre que o casal extrapola nos gastos e as contas no fim do mês não fecham, eles pagam o valor mínimo da fatura de cartão de crédito ou recorrem ao CDC do banco.

A estória de Alfredo e Maria reflete a realidade da maior parte da população brasileira, que vive um momento preocupante em relação ao consumo e ao nível de endividamento das famílias. A falta de educação financeira, somados a facilidade de acesso ao crédito tem causado um efeito perigoso na economia e no nível de consumo da população.

O brasileiro se endivida a um custo altíssimo de juros para adquirir bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, através de longos financiamentos, que favorecem o acúmulo de dívidas no longo prazo.

Ao se endividar e não ter mais nenhuma fonte de renda para pagar as contas, o consumidor recorre a empréstimos e linhas de crédito direto ao consumidor (CDC), para conseguir manter suas contas em dia. Entretanto, essas fontes de financiamento também têm um custo alto de juros, e acaba por comprometer ainda mais renda do consumidor.

Uma das principais causas desse efeito perigoso para a economia é a falta de educação financeira da população, que decide a compra de um bem em longo prazo pelo valor da prestação, e não pelo custo financeiro que ele gera. O Brasil tem um das maiores taxas de juros do mundo, mas isso não parece assustar os brasileiros decididos a adquirir bens a “prestações que caibam no seu bolso”.

*Moysés Dário Alves é contador e consultor de negócios

Nenhum comentário:

Postar um comentário