Moysés Dário Alves - Artigo
Moysés Dário Alves |
Com o carro vieram o seguro e o IPVA, que somados ao aluguel, luz, telefone, condomínio e alimentação passaram a consumir 70% da renda do casal. Com a descoberta da gravidez, vem a necessidade de montar o quarto do bebê. Como o casal praticamente não possui reservas financeiras, resolve montar todo o quarto numa mesma loja, que oferece condições especiais de pagamento.
Após um orçamento, o casal negocia um prazo maior de pagamento com a loja para que a prestação diminua o suficiente para se enquadrar dentro dos 30% da renda mensal disponível, mesmo que a taxa de juros seja um bem maior. O casal, porém, não se importa de pagar mais juros, desde que a prestação se enquadre no seu orçamento.
Sempre que o casal extrapola nos gastos e as contas no fim do mês não fecham, eles pagam o valor mínimo da fatura de cartão de crédito ou recorrem ao CDC do banco.
A estória de Alfredo e Maria reflete a realidade da maior parte da população brasileira, que vive um momento preocupante em relação ao consumo e ao nível de endividamento das famílias. A falta de educação financeira, somados a facilidade de acesso ao crédito tem causado um efeito perigoso na economia e no nível de consumo da população.
O brasileiro se endivida a um custo altíssimo de juros para adquirir bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, através de longos financiamentos, que favorecem o acúmulo de dívidas no longo prazo.
Ao se endividar e não ter mais nenhuma fonte de renda para pagar as contas, o consumidor recorre a empréstimos e linhas de crédito direto ao consumidor (CDC), para conseguir manter suas contas em dia. Entretanto, essas fontes de financiamento também têm um custo alto de juros, e acaba por comprometer ainda mais renda do consumidor.
Uma das principais causas desse efeito perigoso para a economia é a falta de educação financeira da população, que decide a compra de um bem em longo prazo pelo valor da prestação, e não pelo custo financeiro que ele gera. O Brasil tem um das maiores taxas de juros do mundo, mas isso não parece assustar os brasileiros decididos a adquirir bens a “prestações que caibam no seu bolso”.
*Moysés Dário Alves é contador e consultor de negócios
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