Flávio Azevedo
O músico, ativista e preletor do projeto “Cidadania Viva”, Sander, lançou o CD “Kaia na Real”, na noite desse sábado (11/08). O local escolhido para o evento foi o Espaço Cultural Lona na Lua, no Centro de Rio Bonito. O evento foi prestigiado por amigos, familiares e companheiros de estrada de Sander que acompanharam a sua transformação nos últimos 12 anos, quando, segundo ele, mudou radicalmente de vida, “mas sem perder a alegria de viver ou anular os talentos que Deus me deu”.
– A verdade é que eu achava Jesus um maior otário. Até que um dia na mesa de um bar ele falou comigo e eu entendi que de otário eu não tinha nada. Ele me mostrou que eu tinha talento para cantar, compor, falar com as pessoas e poderia usar esses atributos em outras direções – disse o músico, destacando que “há 12 anos eu estou limpo e tenho usado a minha experiência para mostrar às pessoas que as drogas não estão com nada”.
O evento contou com a participação do músico Marcelo Cardoso, o Marcelo Kaus, líder da banda Maverick, que junto com Judson Lessa (Bateria) e Wagner Taveira (Baixo) deram um brilho especial ao evento de lançamento do CD “Kaia na Real”. As músicas têm cunho educativo, crítico e tem o objetivo de provocar a reflexão em relação ao uso de drogas, aos conflitos familiares e a postura da sociedade diante da mídia e dos valores defendidos pela própria sociedade.
Entrevista
Em entrevista ao programa “O Tempo em Rio Bonito” da Rádio Sambê FM (98,7), Sander disse que o “Kaia na Real” está recheado de melodias compostas por ele e o propósito é alcançar a juventude que a cada dia está mais exposta aos efeitos das drogas e a influência da mídia, que “atende a vontade do povo” (letra de uma das músicas do CD) no oferecimento de nada. “O horário de TV é extremamente caro, vale milhões, mas o conteúdo é muito pobre, exatamente para fazer as pessoas permanecerem vazias”, destaca o músico, acrescentando que a família é a entidade que mais sofre diante desse cenário.
Sempre muito crítico e preocupado, Sander reclama a falta de investimentos no setor Cultural e comenta que o fomento ao debate é nulo. Para ele, os movimentos sociais e manifestações culturais que tinham identidade com o pobre e as classes desfavorecidas foram corrompidos pela “lógica midiática”.
– O Funk surgiu com o propósito de expor a realidade das favelas, das pessoas pobres, mas o mercado fonográfico e as gravadoras se apropriaram e acrescentaram a pornografia. Com isso, o movimento que nasceu para conscientizar acabou se transformando numa arma de alienação. Hoje, o Funk é sinônimo de muita bunda, muito peito, muita coxa e tornou-se imoral – destaca Sander.
O músico não para por aí. Ele cita o Funk “Eu só quero é ser feliz”, de Cidinho e Doca, um dos primeiros a ganhar fama, que segundo Sander, “hoje é tido como careta”. Ele afirma que esse é um exemplo clássico da mudança de paradigma e canta o refrão para exemplificar. “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem o seu lugar! Fé em Deus... Percebe como essa letra é um pedido de socorro? E o que temos hoje?”, questiona Sander.
Andrezinho Chock
O fenômeno Andrezinho Chock, o MC riobonitense que está fazendo sucesso por quase todo Brasil, menos no Rio de Janeiro, é outro exemplo apontado por Sander para ilustrar a força do mercado que só investe no que é ruim. Segundo ele, “como Andrezinho mantém a ideologia de fazer letras com conteúdo, com fundo político e se recusa a fazer apologia ao sexo a as drogas, ele acaba sendo excluído do mercado local e só consegue destaque fora do Rio de Janeiro”, revela Sander, expondo a cruel realidade das “glamorosas” e “popozudas” que acabam se sujeitando a exposição por conta do status e posição social que vem a reboque do espetáculo.
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