domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pág. 2 - Editorial da 11ª Edição: Aos bons policiais, o nosso muito obrigado!

A Operação Guilhotina foi deflagrada no último dia 11 de fevereiro
Cariocas e fluminenses acompanham estarrecidos os desdobramentos da “Operação Guilhotina”, que foi deflagrada pela Polícia Federal e pela Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, no último dia 11. Ainda atordoados com as verdades mostradas no filme “Tropa de Elite”, nós continuamos sem saber em que, ou em quem, acreditar. Talvez, a palavra insegurança consiga descrever o que sentimos. Aliás, de acordo com o filme do diretor José Padilha, a flagrante corrupção no setor de Segurança Pública do Rio é apenas um dos tentáculos de uma cabeça diabólica que está plantada nas entranhas da República, em Brasília.

Na ficção o coronel Nascimento do filme "Tropa de Elite" 2
 diz que o Polícia Militar do RJ "tem que acabar"
Diante desse cenário medonho, uma pergunta fica no ar: “todo policial é bandido ou todo bandido é policial?”. A partir da “Operação Guilhotina”, a promessa das autoridades é que vários assassinatos de grande repercussão, que ocorreram no Rio de Janeiro nos últimos anos sejam elucidados (será?). São casos em que há evidências da participação de policiais que tinham acesso livre à alta cúpula da Polícia Civil. Essas informações estão com o Ministério Público (MP).
Entre os crimes, está o atentado ao bicheiro Rogério Andrade, em abril de 2010. O crime ocorreu na Barra da Tijuca. Bicheiros e policiais – parceria antiga – teriam contratado um israelense para instalar e detonar a bomba que explodiu o carro de Rogério, que escapou com ferimentos. O crime teria sido encomendado por dois bicheiros cariocas e contou com o auxílio de um policial que transitava livremente pela segurança do contraventor.
O material para confeccionar o explosivo teria sido fornecido por um ex-sargento do Exército, morto em 2010, por agentes da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), durante um tiroteio. A maneira como a bomba foi colocada no carro do bicheiro deixa com inveja, personagens hollywoodianos como Jack Bauer, da série “24 Horas”. Durante alguns momentos em que o contraventor parou num estacionamento, um ‘homem-bomba’ teria parado seu carro ao lado, rastejado até o veículo e instalado o artefato explosivo.

No atentado a bomba contra Rogério Andrade, o contraventor,
que estava no carona, escapou, mas o filho morreu
O documento enviado ao MP também revela detalhes de crimes encomendados. Pistoleiros – cerca de 20 – teriam uma ‘cooperativa’ para prestar esse tipo de serviço: execução. Eles seriam responsáveis por várias mortes. Uma das vítimas teria sido o ex-deputado Ary Ribeiro Brum, assassinado em 2007.
A morte do presidente da Associação dos Ambulantes, Alexandre Frais Pereira, em maio de 2007, também teria sido obra da sórdida ‘cooperativa’. A motivação era as propinas, um dos temas abordados no filme “Tropa de Elite”. Policiais decidiram ‘tomar conta’ dos negócios, mas teriam esbarrado em Alexandre, que precisou desaparecer. No ano passado, o ex-sargento do Exército, Volber Roberto da Silva Filho, morreu durante uma troca de tiros em Jacarepaguá. Há indícios de que operação tenha sido uma farsa para encobrir o seu assassinato.
Entre outros crimes está a forma de operar dos policiais corruptos, que se valiam de amizades na Chefia da Polícia Civil para indicar quem seriam os investigadores dos tais assassinatos, que, logicamente, nunca seriam esclarecidos. O relatório da operação para o MP está cheio de histórias desprezíveis. Nós narramos apenas algumas delas.
Não temos dúvida que qualquer pessoa decente fica com náuseas quando tem acesso a essas informações. Aliás, qualquer pessoa de bem fica amedrontada ao tomar conhecimento dessas revelações, porque as armas estão nas mãos do inimigo.

Em Rio Bonito, os policiais militares Arnaldo e Elielton são os responsáveis pelo curso Proerd.
Eles são integrantes da banda boa da Polícia Militar do Rio de Janeiro  
Entretanto, vale destacar que dentro desse mar de lama existem policiais que não se deixam corromper. São pessoas que como o lírio – planta que nasce na lama podre, mas sua flor exala um perfume maravilhoso – apesar de estarem dentro de um sistema corrompido não se deixam contaminar. Estamos falando de homens e mulheres de bem, que cumprem o juramento que fizeram e não abrem mão de zelar pela segurança da sociedade.
A todos vocês o nosso muito obrigado! Que Deus os conserve assim! Que o dinheiro, o ganho fácil e a pressão exercida sobre vocês pelos bandidos fardados, geralmente instalados em escalões superiores, não consigam desanimá-los!

Rui Barbosa
Concluímos com uma reflexão de Rui Barbosa, que embora tenha sido dita há cerca de um século continua atual. “A injustiça, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo, a semente da podridão; habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte; promove a desonestidade, promove a venalidade [...] promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas”.

*Flávio Azevedo é editor

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