Evaldo Nascimento
A imponente fachada do novo espaço cultural de Silva Jardim. |
Um espaço cultural que expõe a sua memória, história e cultura literalmente nas paredes. Assim é o Centro Cultural Capivari (CCC), inaugurado no último dia 29 de junho pela Prefeitura de Silva Jardim no prédio restaurado da antiga Delegacia, na Rua Luiz Gomes, no Centro. O ponto foi aberto com uma mostra de quadros dos pintores locais Luiz Cunha, Valéria Sardemberg Val Braga e Sandra Maria Alfradique da Cunha.
As obras dividiram as atenções com a textura de algumas paredes sem reboco que deixam à mostra a maneira rudimentar e artesanal como foram construídas, no Século XIX. Assim como com uma das celas que foi mantida da forma como estava, com o revestimento todo rabiscado e “expondo” velhas anotações feitas por presos, além da grande e pesada porta de ferro. Quem entrou no cubículo pode observar apelos como: “Fé e Liberdade Já” (autor anônimo), “Fé e Esperança Todos os Dias” (Peterson) e “Martins Preso Inocente”, entre muitas outras.
Anotações que reforçaram a declaração do prefeito Marcello Zelão de que “transformamos um local de tortura e sofrimento em um lugar de cultura, expressão do talento, amor e carinho”. O lançamento contou ainda com a presença do aposentado Heráclito Martins Ribeiro Júnior que participou da última reforma do prédio, em 1953, e acabou sendo preso nele próprio em 1964, na época da Ditadura Militar.
– Eu fui detido aqui durante três horas só porque fazia parte do então Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundado pelo Presidente Getúlio Vargas – explicou ele, lembrando que o delegado era Santinho André.
O prefeito Zelão acrescentou que, numa segunda etapa, pretende construir uma biblioteca na parte de trás do terreno com um prédio em estilo totalmente moderno que contraste com o atual. A antiga delegacia (120ª DP) foi desativada há alguns anos, depois da construção e instalação da Delegacia Legal na Estrada da Betel, próximo ao Fórum local.
O CCC dispõe de sete ambientes, além do hall de entrada (com saída pela frente e pelos fundos), a sala da administração (construída num segundo pavimento cujo acesso se dá através de uma escada), banheiros (masculino e feminino), sala de estar e a cela. É todo pintado nas cores vermelho e coral por fora, com branco por dentro, possuindo ainda um portão de entrada lateral pela direita e outro pelos fundos.
As janelas dos fundos também mantém as grossas grades de ferro originais. Tem, além disso, um pátio externo ajardinado, escada e rampa de acesso para portadores de necessidades especiais. Um dos ambientes abriga a galeria de fotos dos ex-prefeitos de Silva Jardim.
As opiniões dos participantes
A beleza e imponência da construção agradou às cerca de 300 pessoas presentes, bem como aos artistas plásticos expositores. O pintor Luiz Cunha, por exemplo, ressaltou que o espaço ficou realmente muito bom e vai valorizar os artistas locais. “Também vão aparecer mais artistas da terra para expor aqui, já que agora dispomos do local que não tínhamos”, acrescentou junto às suas obras que retratam paisagens. Opinião parecida foi a da artista plástica Valéria Braga, que expôs trabalhos de textura em massa com figuras de peixes, flores e abstratos. “O espaço sem dúvida valorizará o artista local, além de atrair trabalhos de outras cidades”, disse. A previsão é de que os trabalhos permaneçam no local pelo menos durante duas semanas.
Já a expositora Sandra Alfradique, com obras que mostram pessoas, também disse ter gostado muito: “ficou um espetáculo e agora temos lugar para expor”, admitiu. Entre os visitantes, um dos que elogiaram muito foi o comerciante riobonitense José Geraldo Jardim, sobrinho-neto do patrono do município, Antônio da Silva Jardim: “Ficou muito bom e bonito mesmo. O município precisava e merecia um espaço assim”, frisou.
O advogado aposentado Nilton José de Mello, cujo pai, Alfredo Camargo de Mello, foi delegado de Silva Jardim por três vezes entre 1950 e 1970, disse que achou bom, principalmente, pelo fato de o prédio ter recebido uma destinação condizente com a sua estrutura e história. “Entrei muitas vez aqui como profissional para defender pessoas que estavam encarceradas nestas celas”, recordou ele, explicando que eram duas celas e a outra foi transformada em local de exposição, assim como parte da parede que as separavam do setor administrativo da delegacia através de um corredor, foi retirada.
O CCC é coordenado pela teatróloga Márcia Goes, que também coordena o recém-inaugurado Teatro Zezé Macedo. Ele é vinculado à Divisão Municipal de Cultura, dirigida por Carmem Valéria de Castro, órgão subordinado à Secretaria municipal de Educação e Cultura (Semec), cuja titular é Vilma Sodré.
Fonte: Ascom/SJ.
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