Pág. 8 - Drogas: o paraíso do Diabo na terra

Padre Eduardo Braga

Apesar do meu escasso tempo, não tive como negar o pedido de Flávio quando me pediu para escrever algo sobre as drogas. Creio que nunca foi tão necessário, como este momento em que vivemos nossa reflexão, mas, sobretudo, nossa ação diante deste flagelo que está dizimando a humanidade.

As caminhadas pela maconha, a iniciativa de Fernando Henrique de levantar a bandeira da legalização, a guerra com o tráfico no Rio, a multiplicação das cracolândias, a chegada do Oxi no Brasil, a proliferação das drogas em Rio Bonito etc. Tudo isso deveria exigir de nós uma postura.

Em Maio de 2007, o Papa esteve aqui no Brasil. Após a sua ida para Roma, os Bispos da América Latina e do Caribe, permaneceram em Aparecida refletindo sobre a realidade atual. Daquele encontro, originou-se o Documento de Aparecida, que tocou também na questão das drogas. Diz o texto: “O problema da droga é como uma mancha de óleo que invade tudo. Não reconhece fronteiras, nem geográficas, nem humanas. Ataca igualmente a países ricos e pobres, as crianças, jovens, adultos e idosos, a homens e mulheres. A Igreja não pode permanecer indiferente diante desse flagelo que está destruindo a humanidade, especialmente as novas gerações. Sua tarefa se dirige em três direções: prevenção, acompanhamento e apoio das políticas governamentais para reprimir essa pandemia”! (nº 422).

Desta leitura a partir do pensamento dos bispos católicos, podemos pensar em diversos aspectos que merecem nossa atenção.

Um primeiro Aspecto é o Pessoal: até que ponto a pessoa realmente é dona de si e alguém pode se dizer integrado nesta sociedade que fragmenta o indivíduo? Para onde caminham os homens? Estamos quase todos estressados, ansiosos. Existe muita astenia, “fraqueza”. Isso também é proveniente da falta de religiosidade autêntica que nos dá uma espiritualidade verdadeira, isto é, uma vivência de Deus que se torna fonte de vida equilibrada. Espiritualidade significa: “reproduzir em nossa vida a vida terrestre de Jesus”, que nos é deixada como exemplo, nos Evangelhos.

Outro Aspecto é o Social: existe hoje em dia, muito individualismo, contatos pessoais sendo substituídos pelo mundo virtual. Querendo ou não somos “laçados” pela sociedade consumista, gananciosa, sensacionalista, imediatista, e somos profundamente influenciados de muitas maneiras. A nossa sociedade é superficial, líquida, sem raízes e não reflete muito, e é muito de experimentar: aí “o bicho pega”. Experimente, por exemplo, o crack uma vez: a pessoa já é presa. Tudo é lançado pela mídia com a maior normalidade do mundo e quem não experimentar está fora.

O Aspecto Econômico: Droga dá dinheiro pelo vício do outro. Tem muita gente rica ganhando dinheiro com a morte e a dependência dos viciados. Tudo gira em torno do lucro. Só é gente, pensa-se, que tem dinheiro, roupa da moda, e a tecnologia moderna (celular). O traficante ganha dinheiro e muito. O dinheiro sempre foi uma ilusão. “A raiz de todos os males é o dinheiro”, diz S. Paulo (1ª Tim. 6 . 10). Saber usar o dinheiro, eis a questão..., em benefício do outro, e não em malefício para o outro. O dinheiro não justifica os meios quaisquer (droga). Como diz Aparecida: “devido aos enormes interesses econômicos ao redor dela” (droga) (nº 424). “Grande número de pessoas, em sua maioria crianças e jovens, que agora se encontram escravizados...” (nº 424).

A causa dessa escravização pode ser a pobreza, complexo de inferioridade, carência de amor e o vazio.

Outro Aspecto é o Político: existe vontade política? Existe interesse político? Sei que essa pergunta é ambígua. Deixo-a assim mesmo. O documento de Aparecida desafia o Estado nos números 425 e 426.

Infelizmente existem políticos que se beneficiam com as drogas. Há um pouco de tudo dentro deste mundo. Graças a Deus, aqui em Rio Bonito estamos contando com a ajuda total da Prefeitura. Tanto o nosso Prefeito, o vice e os Secretários. Todos estão conosco neste momento de conscientizar nossas famílias, nossas crianças e jovens. Em breve, Rio Bonito vai parar. Que nos posicionemos diante deste devastador mundo das drogas.

Enfim, temos o Aspecto Pastoral: é o que trata o Documento de Aparecida n. 422. Nossas Igrejas todas estão com olhos abertos para tudo o que vem acontecendo. Todos os dias nós atendemos pessoas envolvidas com drogas. Quantos sofrimentos...

De forma concreta, nós católicos, temos em todo o país a Pastoral da Sobriedade. Temos também várias instituições de recuperação, dentre elas, a Fazenda da Esperança, é a mais conhecida e espalhada por diversos países do mundo. Aqui na Paróquia, além do projeto que ajuda os tóxicodependentes, e familiares, nós temos a Comunidade Jesus Vive e é o Senhor, que atualmente, dentre outros trabalhos, está construindo uma enorme casa de recuperação aqui em Rio Bonito.

Esperamos mobilizar a todos de Rio Bonito no próximo dia 15 de Julho, quando faremos uma Caminhada pela Vida!

Bem, mesmo que droga seja uma “Mancha de óleo, que invade tudo”, nós precisamos ter a esperança que ainda é tempo de conter a mancha e proteger ainda o que por ela não foi contaminado. Vamos tentar juntos? Comecemos urgentemente!

Em nome da nossa Paróquia, estamos unidos nesta causa!

Eduardo Braga é o padre da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição/RB