Por Zeca Novais
Roubonildo era mais um traficante. Morava no Complexo do Alemão, mas como começou a ter prejuízos com a chegada da UPP em sua área, resolveu sair em busca de outros lugares para “trabalhar”. Leu no Jornal “O Tempo em Rio Bonito”, que na pequena cidade do interior, a violência estava na moda, e que lá não havia uma política de prevenção no combate à criminalidade.
Não deu outra! Roubonildo sorriu e partiu para Rio Bonito em busca de novas aventuras! Logo fez amizade com alguns vendedores de droga que diziam que por aqui ninguém ia preso, porque “os contatos” soltavam. Roubonildo não queria mais traficar, pensava em mudar de vida. Foi então que resolveu trocar de “profissão”. De traficante passou a assaltante. Rondava a rua dos bancos e atacava bolsas de aposentados e empresários que depositavam dinheiro por volta de 11h da manhã.
Com o tempo, os negócios de Roubonildo começaram a “prosperar” e o rapaz começou a ser referência na região.
Roubonildo roubava de moto. Era simples: o colega esperava o assalto e partia com ele na garupa.
Com o tempo, os negócios de Roubonildo começaram a dar errado. As autoridades descobriram a técnica do rapaz e todas as motos passaram a ser vigiadas. Se alguém andasse de moto, seria parado: pedreiro, entregador de pizza, político, médico, enfermeiro, padeiro, lutador de sumô, cantor lírico, padre, pastor, pai de santo, cantor gospel, comerciante, pipoqueiro, mecânico, vigia, jornalista... Todos eram parados diariamente!
Desesperado, Roubonildo percebeu que precisava inovar... Foi então que o jovem marginal teve uma brilhante ideia: “Vou assaltar de skate!”.
Roubonildo se aperfeiçoou e desenvolveu uma mega habilidade e incrível destreza com seu skate. Roubonildo rendia as vítimas na Rua dos Bancos e saía em disparada pela Rua XV de Novembro, em direção à Rua da Conceição. O plano era perfeito, ninguém suspeitava daquele skatista radical. Embora estivesse de skate, Roubonildo cuidava de sua segurança: usava cotoveleiras, joelheiras, e claro, CAPACETE. Bateu recordes e chegou a contabilizar mais de 50 assaltos em uma só semana.
Um dia, cansado de assaltar de skate, Roubonildo resolveu inovar. Começou a assaltar de patins. A essa altura do campeonato, o nosso marginal já era o assaltante mais radical do país! Roubava velhos e jovens, sempre caprichando nas manobras radicais durante a fuga.
Até que através de uma ligação anônima, Roubonildo dançou. Foi preso, encaminhado paro xadrez de Araruama, e a cidade ficou aliviada com o assaltante radical fora das ruas.
Buscando oferecer mais segurança à população, o governo tomou providências: enviou para a cidade, mais de 50 policiais, todos fortemente armados, e 10 viaturas em perfeito estado. Os representantes do governo batiam no peito dizendo que o problema havia sido resolvido.
Mas, o governo havia esquecido dos jovens da cidade que cresciam sem arte, sem esporte, sem educação.
Sem investimentos em políticas de prevenção no combate à criminalidade, outros Roubonildos surgiram dentro da cidade, assaltando, traficando, matando, dando origem a histórias idênticas à de Roubonildo.
E há quem diga que na cidade pseudo-provinciana, mais Roubonildos irão surgir, simplesmente porque não há ESCOLHA.
Zeca Novais é ator, diretor e idealizador do projeto Lona na Lua
Primeiro gostaria de agradecer o carinho que sempre nos prestou, nos momentos mais felizes de festas ao mais triste da despedida.
ResponderExcluirParabens pelo texto, está incrível!Que sirva de exemplo para os jovens, para os filhos de Rio Bonito e principalmente para os que se dizem amigos do povo. Que o projeto Lona na Lua proporcione esperança e alegria para todos.
Parabens Zeca, muita luz no seu caminho!