sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pág. 5 - Assassinato na Praça da Bandeira, em Rio Bonito, reabre a discussão sobre população de rua no município

Flávio Azevedo

Uma imagem que choca, impressiona, mas
que mostra a que ponto chegou a
banalização da vida
O chapa Edmar da Conceição Gaivoto (26), mais conhecido como Gilmar, morador da Jacuba, foi assassinado com golpes de barra de ferro, na manhã do último dia 4 de maio. O autor do crime foi Wanderson de Jesus Silva (32), que tem a mesma ocupação da vítima. O assassino, que também era chamado de Leandro, é morador do bairro Monteiro Lobato (BNH). O crime aconteceu por volta das 11h, na Praça da Bandeira, no Centro. O local é o ponto preferido dos mendigos e andarilhos do município. Curiosamente, no mesmo instante, a Delegacia Legal da cidade era inaugurada.

Segundo testemunhas, Edmar dormia em um dos canteiros da Praça, quando Wanderson se aproximou, com uma barra de ferro, de aproximadamente 1m, e golpeou a vítima no rosto. A polícia foi chamada. A vítima foi socorrida, levada ao Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV), mas não resistiu o traumatismo e morreu.

A agressão teria sido motivada por uma briga, ocorrida dias antes. Os homens eram conhecidos pelo consumo abusivo de bebidas alcoólicas e viviam discutindo. O caso foi registrado na 119ª DP (Rio Bonito).

Preocupação

O autor do crime, Wanderson de Jesus Silva
O crime reabre a discussão sobre a população de rua e sinaliza sobre a necessidade de um albergue ou abrigo para essas pessoas. Na Praça da Bandeira, no Mercado Municipal, no Camelódromo, e nas proximidades, a presença de mendigos, pedintes e andarilhos, incomoda, mas as pessoas tentam encarar com naturalidade.

Um misto de preocupação e medo é o que se percebe nas pessoas que trabalham ou precisam passar pelo local. A Praça da Bandeira também é utilizada pelos estudantes de nível superior que utilizam o transporte universitário oferecido pela Prefeitura. Como de praxe, na hora de falar sobre assunto, as pessoas pedem para não serem identificadas. Uma comerciante que decidiu opinar, depois ter garantido o seu anonimato, justificou o seu receio dizendo não querer ser olhada como uma pessoa “homofóbica”.
– Eu não teria nenhum problema em dar o meu nome, mas hoje, tudo é motivo para alguém querer te processar. Precisamos ter muito cuidado na hora de opinar sobre determinados assuntos, porque algum oportunista pode querer entrar com um processo contra você – comentou.

Ainda segundo a comerciante, a falta de liberdade para se falar sobre negros, homossexuais, dependentes químicos, moradores de rua e outros é muito grande. “Sempre dizem que você está discriminado. Até para falar de bandidos, você tem que pensar duas vezes. Esses tais Direitos Humanos protegem mais que anda a margem da sociedade do que as pessoas que estão trabalhando, gerando emprego e ajudando o país a crescer”, desabafou.

Um conversa antiga

A dona de casa Maria das Graças Lima Santos, 46 anos, moradora do Centro, disse que mudou o horário das compras nos supermercados próximos a Praça da Bandeira. Segundo ela, um desses homens (mendigo) já a seguiu pedindo dinheiro, e quando percebeu que não seria atendido fez uma ameaça: “você não vai me ajudar? Tudo bem, mas isso não vai ficar assim. Eu sei que todos os dias você passa aqui. Espera só para ver o que vai acontecer”, teria dito o homem, que ela não sabe dizer quem é.

Já o aposentado Joel Paixão, de 66 anos, destacou que a coisa não está pior por conta do Mercado Rio Doce. “Como aquele comércio prosperou, o empresário ampliou a loja para o outro lado da rua. Com isso, aquele monte de mendigo que ficava dormindo na calçada teve que buscar outro lugar. Eu não tenho nada contra essas pessoas, mas não é possível que isso não esteja sendo visto pelas autoridades municipais”, disse o aposentado.

Ainda segundo Joel Paixão, outro dia, tinha um mendigo tentando transar com uma mendiga próximo ao Mercado Municipal. “Não foi só eu que vi. Tinham crianças olhando aquela cena, gente transitando por ali... Como ela não quis, acho que ficou envergonhada, ele começou bater nela”, contou.

Nota da redação: desde a sua primeira edição, “O TEMPO EM RIO BONITO” defende a implantação de um albergue municipal. Entretanto, advertimos que o local não deve ser um cabide de empregos ou canal para o venal assistencialismo. Como acontece em outras instituições, o gerenciamento do albergue deverá ser transparente, desinteressado, parceiro da iniciativa privada e, visando, sobretudo, a recolocação social dessas pessoas que também são seres humanos.

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