domingo, 11 de agosto de 2013

Pág. 23 - Falsa liberdade

*Francisco Azevedo

Um sabiá infeliz se lastimava
Da sua triste e cruel situação
Pois num viveiro confinado se encontrava
E impedido de voar na amplidão.

No seu olhar melancólico escondia
Toda a saudade da mata doce lar
Sentir a chuva e o sol que lhe aquecia
Nas altaneiras árvores pousar.

Sentir o odor das flores perfumadas
E nos pomares feliz se alimentar
Cantar alegre desde a madrugada
E a tardinha dar vivas ao luar.

Enquanto assim pensava angustiado
Abre-se a porta do local onde ele está
E eis que entra um caçador mal humorado
E sobre a mesa coloca um samburá.

E ele vê pelo peito transpassados
Muitos pássaros mortos a sangrar
Contempla a cena mudo horrorizado
E de repente muda o seu pensar.

Oh se eu estivesse voando pela mata
Com certeza teria sido abatido
Como essas vítimas de sorte tão ingrata
Certamente eu teria perecido.

E passa a cantar mais conformado
Ao ver outros numa pior condição
Eu pelo menos sou muito bem tratado
E do meu amo tenho carinho e atenção.

Assim na vida em nossas tristes horas
Quando sentirmos a dor das aflições
Vamos lembrar que por este mundo afora
Outros se encontram em piores condições.

E muitas vezes um mal que nos tortura
Que nos prostrou e até nos fez chorar
Não é o fim pode ser doce ventura
Que em nossa vida esteja a começar.

*Francisco Azevedo é poeta, músico, compositor e letrista.

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