Texto: Flávio Azevedo
Fotos: Galileu
O guindaste removendo a carga que tombou as margens da BR - 101. |
Quem transitou no km 260 da BR – 101, em Rio Bonito (Cidade Nova), na última quinta-feira (08/11), precisou lançar mão de virtude pouco exercida nos dias atuais: a paciência. O motivo do tal exercício foi a remoção da carga do caminhão (bi-trem) que tombou por volta da meia noite do dia 06 de novembro naquele local. Carregado com 50 toneladas de granito, o caminhão era dirigido por Leandro Rebelo, de 33 anos, morador de São Gonçalo. Ele vinha de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e tinha por destino o porto do Rio de Janeiro. O acidente teria sido provocado, segundo o motorista, por uma carreta que trafegava em sentido contrário e teria fechado o bi-trem.
A carga começou a ser retirada por volta das 10h e o procedimento durou toda tarde de quinta-feira. O trânsito seguiu em sistema de pare e siga e o engarrafamento foi grande. O congestionamento de veículos provocou retenção num raio de 4 km no sentido Silva Jardim e 2 km no sentido Tanguá. A Autopista Fluminense, concessionária que administra a rodovia, informou que a demora em retirar a carga ocorreu porque, de acordo com o contrato da empresa com o governo federal, não é responsabilidade dela a retirada de cargas que estejam fora da rodovia, mas sim da transportadora responsável.
Moradores em alerta
O bi-trem tombou no km 260 e as casas abaixo foram interditadas pela Defesa Civil. |
O acidente também trouxe prejuízos e, sobretudo apreensão aos moradores do bairro Cidade Nova, mais precisamente aqueles que moram na Rua Arno Pacheco Marins e Travessas Carla Verônica e Valentina Barbosa. Orientados pela Defesa Civil do município, eles tiveram que deixar as suas casas diante da possibilidade da carga de granito cair sobre algumas residências. Logo depois do acidente, a educadora Denise Ker Lima, moradora da residência que estava logo abaixo da carga, e seria a principal atingida, escreveu um desabafo em uma rede relacionamentos.
– Mandei os filhos mais velhos para casa de amigos e só fiquei com Maria em casa, pois se precisar correr durante a noite será mais fácil. Não consegui vaga em um hotel e sei que não dormirei bem essa noite, qualquer barulho me assusta. Os bombeiros mandaram evacuar a casa e a Auto Pista Fluminense tem a cara de pau de falar que não pode fazer nada, que é só a gente usar somente a metade de casa, porque se a carga de muitas toneladas for rolar, só vai pegar essa parte, acreditam? – escreveu Denise.
A educadora completa o texto, que teve 79 compartilhamentos, da seguinte maneira: “Eles acham que a culpa é da transportadora e não enxergam que o problema é na pista, pois esse já é o quarto caminhão que cai aqui em pouco tempo. Enquanto isso o pedágio é cobrado tranquilamente... Peço que quem puder compartilhe, porque estou indignada e gostaria que esse recado chegasse até eles”.
Transporte público (ferrovias)
A Estação Ferroviária de Rio Bonito, incendiada em fevereiro de 2011, também pode retrar o abandono do setor ferroviário do Brasil (Foto: Rogério Rodrigues). |
Na reportagem, um mapa ferroviário de 1954 mostra como os trens de passageiros ligavam o litoral e o interior, principalmente no Sudeste e no Nordeste do Brasil, mas também no Norte e no Sul. No auge, nos anos 60, eram mais de 37 mil quilômetros de ferrovias fazendo pelo menos uma parte do que hoje se faz de ônibus, carro ou avião. A partir da década de 50, com o objetivo de estimular a compra do carro, o governo passou a estimular o transporte individual. O resultado disso é o que vemos hoje: congestionamentos, inúmeros acidentes automobilísticos e muita carga que deveria estar sendo transportada por trens (inclusive, passageiros), sendo conduzidas pelas estradas.
Depois de 16 anos estudando a história dos trens no Brasil, o pesquisador Ralph Guisbrert, membro da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, concluiu que o maior problema foi o sucateamento da linha férrea durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, “as pessoas mais ricas, que eram quem sustentava os trens de passageiros, rapidamente largaram os trens de passageiro e começaram a andar de avião, de carros, que já chegavam cada vez mais baratos. Então começou a cair manutenção dos trens, das vias, das estações”, explica.
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