terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pág. 14 - Moradores da região preocupados com apagões de energia elétrica durante o verão

Por Flávio Azevedo

As cidades da região podem ter um verão problemático. É que especialistas em energia elétrica apontam os recentes apagões como reflexos da falta de investimentos em infraestrutura para distribuição de eletricidade, além do baixo investimento em mão de obra qualificada para operar o sistema.

Do outro lado, a Concessionária Ampla, que atende as cidades e grande parte do interior do estado, diz que a rede opera com folga de 20%, o que diminui os riscos de blecaute, além do investimento maciço na rede. Sem opções, comerciantes e moradores criam estratégias para driblar o problema.
– Eu acho muito complicada a afirmação de que o sistema opera com folga de 20%, mas é preciso atentar que, mesmo que seja essa a folga, a grande parte dos problemas está na capacitação dos que operam esses equipamentos. No caso da Ampla, o problema é maior pela quantidade de funcionários terceirizados. Pela rotatividade, todo o treinamento se perde – explica Regina Moniz, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (Abee-RJ).

Para a Ampla, o verão que chega deve ser mais tranquilo que o passado, onde a empresa ultrapassou a meta de falhas por ano. Segundo o diretor de Relações Institucionais, André  Moragas, a “tranquilidade” custou R$ 102 milhões. “Foi um acréscimo de 35% no investimento para melhora de qualidade da rede. O grande problema que enfrentamos é o ambiente hostil à rede. Nossas interrupções no último verão foram provocadas por um aumento de 117% na incidência de raios no estado do Rio de Janeiro, além de ventos muito fortes”.


Há cerca de um ano, na Câmara Municipal de Rio Bonito, representantes da Ampla se reuniram com empresários e vereadores para justificar os apagões   
 Segundo a empresa, o trabalho incluiu a poda de cerca de 700 mil árvores, a instalação de para-raios, religadores automáticos e a instalação de rede especial para áreas muito arborizadas. A Ampla promete ainda uma força-tarefa, composta de funcionários que podem ser remanejados de outros setores em um prazo de cinco horas em caso de necessidade.

Para Regina, o que a concessionária anunciou está longe de ser a melhor solução. “O treinamento tem que ser contínuo e as pessoas precisam entender como o sistema opera. Não adianta investir em equipamentos se o funcionário não tem a capacidade de identificar um problema assim que ele surge para solucioná-lo, disparou”.

Apreensão e revolta

A comerciante Márcia de Souza, 37 anos, que trabalha com sorvetes e outros produtos que precisam estar gelados ou congelados, diz que em 2010 perdeu várias mercadorias por conta dos muitos apagões. Além de se queixar das perdas, ela reclama do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC).
– Algumas vezes nós chegamos a ficar o dia inteiro sem energia elétrica. Outra coisa horrível é o atendimento ao cliente. Esse negócio de ficar contando os seus problemas para uma secretária eletrônica já um jeito que a empresa arranja para não atender o cliente direito. Eu acho isso um absurdo! O que me deixa mais indignada é que se eu atrasar o pagamento da conta de luz, logo aparece alguém para corta o fornecimento de energia da minha casa – criticou.

O engenheiro Josias Moacir Silveira, de 36 anos, morador do Centro, também se mostra insatisfeito com os serviços prestados pela concessionária de energia elétrica. Ele também reclama dos órgãos fiscalizadores do governo, que para ele, “não funcionam e servem apenas como cabide de emprego”.
– O problema não são apenas os maus serviços prestados pela Ampla. O que me deixa mais revoltado é que nós não temos a quem recorrer! A empresa, nós sabemos, não está nem aí para os clientes. O que me incomoda, porém, é que você fica impotente, por não ter com quem reclamar. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por exemplo, é um órgão inútil. Não foi uma nem duas vezes que eu liguei para denunciar a má prestação de serviço, mas lá também não se consegue falar com ninguém. O atendimento da Aneel, talvez, seja mais ridículo que o SAC da Ampla – disparou.

Nota da redação: de acordo com o site da Aneel (www.aneel.gov.br), “a missão da agência é proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade”. Analisando o que disseram os nossos entrevistados, fica a impressão que os funcionários e operadores da Aneel não leram esse link.

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