Por Flávio Azevedo
|
Uma cliente observa a prateleira de verduras quase vazia no Hortifruti Grande Rio. |
Depois das chuvas que devastaram a Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, verduras e legumes estão custando pelo menos o dobro do preço nos estabelecimentos do ramo. A região é uma das principais áreas de produção de hortaliças do estado. Comerciantes e consumidores estão assustados com o preço que estão sendo obrigados a cobrar e pagar pelos produtos. Outra constatação é que além dos preços altos, a qualidade não está boa e a oferta das hortaliças diminuiu.
A doméstica Geovana Teles, de 33 anos, que trabalha no Centro, diz que por conta dos preços altos e das mercadorias de baixa qualidade, as horas no mercado aumentaram. “Geralmente eu levo meia hora para fazer sacolão. Agora, eu estou levando uma hora, porque, a pedido da minha patroa, eu tenho que percorrer todas as quitandas e mercados em busca do melhor preço. Tem muita gente pensando que essa desgraça que aconteceu na Região Serrana não mexa na vida da gente, mas pelos menos na minha rotina mexeu”, disse a doméstica.
Em todas as lojas do ramo, as prateleiras destinadas a receber verduras estavam mais vazias e mostrando preços muito altos. “Está assim desde o início da semana passada. Tem menos mercadoria e tudo muito mais caro!”, reclama o aposentado Joaquim da Silva, de 66 anos, morador do Centro. Já a dona de casa Marta Aleixo Porto, 24 anos, moradora da Praça Cruzeiro, disse que está substituindo as verduras por outros legumes e até frutas.
– Tem gente que não sabe, mas têm saladas de legumes que com algumas frutas, maçã, por exemplo, ficam muito saborosas. O problema é o cheiro verde, porque como ele também está escasso, a salada acaba ficando sem aquele verdinho da salsinha e da cebolinha que dá um toque especial – receitou a dona de casa.
|
Uma das ruas de Nova Friburgo lembram o cenário do filme "2012" |
A tragédia na Serra, até o fechamento desta edição, já havia deixado mais de 650 mortos. Os deslizamentos que bloqueiam as estradas de ligação com a Região Metropolitana, junto com os estragos nas lavouras, resultaram no aumento dos preços da Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ).
No sábado (15), a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca do Rio de Janeiro (SEDRAP) anunciou que o abastecimento no estado estava se normalizando. Entretanto, não foi o que a nossa reportagem constatou nos últimos dias. Na manhã do último domingo, no Hortifruti Grande Rio, o proprietário Felipe Braga se queixou: “está complicado trabalhar! Não é vantagem vender mercadorias muito baratas, por outro lado, cobrar muito caro também gera problemas com o consumidor!”, ponderou.
Dificuldade de acesso
De acordo com Edésio de Carvalho, gerente do Terê Frutas, o abastecimento de hortaliças da loja é 100% proveniente de Teresópolis, um dos municípios mais atingidos pelas chuvas. Para ele, porém, o que está fazendo aumentar os preços das verduras é a dificuldade de acesso às propriedades. Ele acredita que a situação só deve se normalizar em 90 dias.
– Nem todos os fornecedores foram afetados pelas chuvas! O grande problema é que como as estradas estão obstruídas, os caminhões não chegam às propriedades para escoar a produção. Essa é a grande razão para o desabastecimento – disse Edésio, revelando que os preços das verduras tiveram uma alta de quase 80%.
Na manhã da última segunda-feira (17), a alface, que geralmente custa R$ 0,79 para o consumidor, estava sendo comercializada a R$ 1,29. Também estavam com preços bem mais altos, a couve, o cheiro verde, a chicória e a couve-flor. O cheiro verde, por exemplo, estava em falta em outros estabelecimentos. “Chegou, mas nem está valendo à pena comprar, porque está muito ruim”, disse a auxiliar de serviços gerais, Maria das Graças Freitas, enquanto examinava as verduras.
Para o gerente do Supermercado Multimix, Genival Gouveia, que há 39 anos trabalha no setor, essa é a maior crise que ele já acompanhou no fornecimento de verduras. “Eu fiquei cinco dias sem ter nenhuma hortaliça para oferecer aos clientes, e isso é muito prejudicial para os negócios. Hoje (segunda-feira, 17), chegou pouquinha coisa, mas a qualidade não está boa e o preço impraticável – destacou Gouveia.
Restaurantes e lanchonetes no prejuízo
Nos últimos dias, em várias lanchonetes da cidade os hambúrgueres estavam sendo vendidos sem alface. Os comerciantes do setor de restaurantes também estão enfrentando problemas com o abastecimento. No Self Sucos, o proprietário Gérson Alves da Silva afirmou que “como nós trabalhamos com preços populares (R$ 7,00), estamos sendo muito prejudicados”.
Já o empresário Carlos Alberto Gerhardt, proprietário do restaurante Ponto de Encontro, se queixa da variação de preços das verduras e afirma que está precisando buscar mercadorias em outros centros, “o que nos faz comprar produtos 30%, 40%, 50% mais caros”, disse o empresário, revelando que “é possível substituir alguma coisa do cardápio, mas não tudo!”.
Durante a entrevista, os empresários também reclamaram do preço da carne, que junto com o aumento inesperado das verduras estaria prejudicando as margens de lucros planejadas. “A carne aumenta todo fim de ano, mas depois recua. Já é um reajuste previsto. Este ano, porém, ela aumentou e ficou. Ou seja, nós estamos precisando administrar duas situações adversas”, concluiu Gerhardt