domingo, 31 de março de 2013

Pág. 18 - Qual o futuro da casa que hospedou a princesa Isabel?


Dawson Nascimento

Localizada na Praça B. Lopes, em Boa Esperança, 2º Distrito de Rio Bonito, esta casa é o único prédio remanescente do antigo conjunto arquitetônico que formavam a vila de Boa Esperança no século XIX. Este belo exemplar da arquitetura rural do império representa o período áureo do ciclo cafeeiro da região, mas corre o risco de desaparecer a qualquer momento, pelo estado de instabilidade estrutural, resultado dos abalos constantes causados pelo intenso tráfego da RJ – 124 (ViaLagos) e dos ônibus e caminhões que diariamente transitam no entorno do prédio.
A casa é uma construção de um pavimento, de planta retangular sobre porão não habitável, duas casas anexas, com acesso pelas laterais e fundos; fachada frontal de seis vãos de janelas; nas laterais, quatro janelas e quatro portas de cor “azul colonial” desgastadas pelo tempo; e paredes caiadas de branco. Ela também conta com alvenaria de tijolo maciço e pedra; com cunhais nos quatro cantos da casa; cimalha de madeira sob a cobertura de quatro águas em telhas canal, feita nas cochas de escravos; calçada no entorno da edificação, feitas de pedras em pé-moleque; piso assoalhado de madeira de lei; e forro de madeira em “saia e camisa”, que em alguns cômodos já não existem.

Fatos históricos

Construída pelo empresário e político Alexandre Pereira dos Santos, no alvorecer do século XIX, essa casa serviu de palco para vários acontecimentos marcantes da história de Boa Esperança e Rio Bonito. Ali aconteceu as principais reuniões que culminaram com a emancipação político e administrativo de Rio Bonito, ocorrida no  dia 7 de Maio de 1846.
Segundo o diário de José Pereira de Mendonça, genro e sobrinho de Alexandre Pereira dos Santos, no dia 12 de Julho de 1868, veio a passeio, na freguesia de Boa Esperança, o príncipe Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston (Conde d'Eu) e sua esposa, a princesa Isabel Cristina de Orleans e Bragança. O casal ficou hospedado nessa casa por uma noite. O poeta B. Lopes, natural de Boa Esperança, tinha nove anos por ocasião dessa ilustre visita, que ele eternizou no poema “Berço”, no trecho onde escreve: “Seu Alexandre, um bom velhinho rico que hospedara a princesa...”.

Alunos do grupo escolar Bernardino da Costa Lopes em dia festivos. Na imagem vemos a saudosa Professora Doly Carvalho, esposa de Aparício Vieira de Moraes, farmacêutico e um dos fundadores do Esperança Futebol Clube.

Alexandre Pereira dos Santos Alexandre Pereira dos Santos nasceu em 1791, na “Mata do Rio Seco”, na fazenda de seus pais, José Pereira dos Santos e Ana Maria de Jesus. Seus familiares eram fazendeiros e políticos, alguns de renome. Alexandre era tio materno da avó de Alberto Martins de Seixa Torres, eminente chefe político nascido em Porto das Caixas. Outro membro importante na família foi Dr. João Batista Cortines Laxe, organizador do famoso regimento interno das Câmaras Municipais do estado do Rio de Janeiro. Dr. João Batista Cortines Laxe está sepultado no cemitério de Boa Esperança. Ele é pai de Júlia Cortines, nossa poetisa maior.

Alexandre Pereira dos Santos foi o maior colaborador do progresso local. Construiu a igreja de Boa Esperança com recursos próprios, fornecendo escravos e materiais necessários para a obra. Construiu muitas casas de moradia e negócios na vila de Boa Esperança. Possuía fazendas de café e olaria em Catímbau Grande e na Mata. Apadrinhou um grande número de crianças, tanto em Boa Esperança como em Rio Bonito, segundo os assentos de batismos existentes nas duas paróquias.

Ele foi vereador e presidente da câmara em diversos mandatos. Faleceu em 07/08/1876, aos 85 anos incompletos e foi sepultado no interior da igreja que ajudou a construir. A casa ficou para sua filha, Minervina Rosa dos Santos, esposa de José Pereira de Mendonça e sucessivamente para os seus netos, Antônio Joaquim Ferreira e Hartur Ferreira e irmãos.

No dia 21 de Julho de 1927 o prédio foi adquirido por Salvador da Costa Pereira, casado com Dona Nicula, pais de Dona Alcídia, de saudosa memória para o povo de Boa Esperança. Atualmente o imóvel pertence aos irmãos e familiares de Dona Alcídia.

Outra casa, também do século XIX, da família Borges, fica ao lado direito da primeira, e igualmente a primeira é de suma importância para a história de Rio Bonito. Nesta casa, outrora, funcionou o grupo escolar B.Lopes, mas infelizmente o telhado já está desabando.

Muitas vezes ouço de pessoas, que por ignorância e falta de conhecimento me dizem o seguinte: “quem vive de passado é museu!”. Eu concordo em grau e gênero e respondo: “sim, as cidades de Paraty, Conservatória, Vassouras, Valença, Ouro Preto, Mariana, Diamantina, Sabará e outras centenas de cidades brasileiras vivem do passado e faturam milhões com o turismo histórico, cultural, religioso e geram milhares de empregos diretos e indiretos”.

Seria muito bom se Rio Bonito também pudesse viver do passado, mas para isso ao invés de tombarmos os nossos bens históricos ao chão, precisaríamos jogar por terra o preconceito que procede da falta de conhecimento na área, além de agirmos em prol do resgate, da preservação e da difusão do nosso patrimônio histórico, ambiental, documental, iconográfico e artístico municipal. Tudo isso engloba o que temos de melhor na diversidade cultural existente em nossa cidade e isso tem que ser refletido, agora, porque já estamos sentido os efeitos causados pela construção do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. Sendo assim, Rio Bonito corre o risco de perder a sua identidade histórica e cultural.

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