Dawson Nascimento
Localizada na Praça
B. Lopes, em Boa Esperança, 2º Distrito de Rio Bonito, esta casa é o único prédio
remanescente do antigo conjunto arquitetônico que formavam a vila de Boa
Esperança no século XIX. Este belo exemplar da arquitetura rural do império representa
o período áureo do ciclo cafeeiro da região, mas corre o risco de desaparecer a
qualquer momento, pelo estado de instabilidade estrutural, resultado dos abalos
constantes causados pelo intenso tráfego da RJ – 124 (ViaLagos) e dos ônibus e caminhões
que diariamente transitam no entorno do prédio.
A casa é uma construção
de um pavimento, de planta retangular sobre porão não habitável, duas casas
anexas, com acesso pelas laterais e fundos; fachada frontal de seis vãos de
janelas; nas laterais, quatro janelas e quatro portas de cor “azul colonial” desgastadas
pelo tempo; e paredes caiadas de branco. Ela também conta com alvenaria de
tijolo maciço e pedra; com cunhais nos quatro cantos da casa; cimalha de
madeira sob a cobertura de quatro águas em telhas canal, feita nas cochas de
escravos; calçada no entorno da edificação, feitas de pedras em pé-moleque; piso
assoalhado de madeira de lei; e forro de madeira em “saia e camisa”, que em alguns
cômodos já não existem.
Fatos históricos
Construída pelo
empresário e político Alexandre Pereira dos Santos, no alvorecer do século XIX,
essa casa serviu de palco para vários acontecimentos marcantes da história de
Boa Esperança e Rio Bonito. Ali aconteceu as principais reuniões que culminaram
com a emancipação político e administrativo de Rio Bonito, ocorrida no dia 7 de Maio de 1846.
Segundo o diário de
José Pereira de Mendonça, genro e sobrinho de Alexandre Pereira dos Santos, no
dia 12 de Julho de 1868, veio a passeio, na freguesia de Boa Esperança, o príncipe Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston (Conde d'Eu) e sua esposa, a princesa Isabel Cristina de
Orleans e Bragança. O casal ficou hospedado nessa casa por uma noite. O poeta
B. Lopes, natural de Boa Esperança, tinha nove anos por ocasião dessa ilustre
visita, que ele eternizou no poema “Berço”, no trecho onde escreve: “Seu
Alexandre, um bom velhinho rico que hospedara a princesa...”.
Alunos do grupo
escolar Bernardino da Costa Lopes em dia festivos. Na imagem vemos a saudosa
Professora Doly Carvalho, esposa de Aparício Vieira de Moraes, farmacêutico e um
dos fundadores do Esperança Futebol Clube.
Alexandre Pereira dos
Santos Alexandre Pereira dos Santos nasceu em 1791, na “Mata do Rio Seco”, na
fazenda de seus pais, José Pereira dos Santos e Ana Maria de Jesus. Seus
familiares eram fazendeiros e políticos, alguns de renome. Alexandre era tio
materno da avó de Alberto Martins de Seixa Torres, eminente chefe político
nascido em Porto das Caixas. Outro membro importante na família foi Dr. João
Batista Cortines Laxe, organizador do famoso regimento interno das Câmaras Municipais
do estado do Rio de Janeiro. Dr. João Batista Cortines Laxe está sepultado no
cemitério de Boa Esperança. Ele é pai de Júlia Cortines, nossa poetisa maior.
Alexandre Pereira dos
Santos foi o maior colaborador do progresso local. Construiu a igreja de Boa
Esperança com recursos próprios, fornecendo escravos e materiais necessários
para a obra. Construiu muitas casas de moradia e negócios na vila de Boa
Esperança. Possuía fazendas de café e olaria em Catímbau Grande e na Mata. Apadrinhou
um grande número de crianças, tanto em Boa Esperança como em Rio Bonito, segundo
os assentos de batismos existentes nas duas paróquias.
Ele foi vereador e
presidente da câmara em diversos mandatos. Faleceu em 07/08/1876, aos 85 anos
incompletos e foi sepultado no interior da igreja que ajudou a construir. A
casa ficou para sua filha, Minervina Rosa dos Santos, esposa de José Pereira de
Mendonça e sucessivamente para os seus netos, Antônio Joaquim Ferreira e Hartur
Ferreira e irmãos.
No dia 21 de Julho de
1927 o prédio foi adquirido por Salvador da Costa Pereira, casado com Dona
Nicula, pais de Dona Alcídia, de saudosa memória para o povo de Boa Esperança. Atualmente
o imóvel pertence aos irmãos e familiares de Dona Alcídia.
Outra casa, também do
século XIX, da família Borges, fica ao lado direito da primeira, e igualmente a
primeira é de suma importância para a história de Rio Bonito. Nesta casa,
outrora, funcionou o grupo escolar B.Lopes, mas infelizmente o telhado já está
desabando.
Muitas vezes ouço de
pessoas, que por ignorância e falta de conhecimento me dizem o seguinte: “quem
vive de passado é museu!”. Eu concordo em grau e gênero e respondo: “sim, as
cidades de Paraty, Conservatória, Vassouras, Valença, Ouro Preto, Mariana, Diamantina,
Sabará e outras centenas de cidades brasileiras vivem do passado e faturam
milhões com o turismo histórico, cultural, religioso e geram milhares de
empregos diretos e indiretos”.
Seria muito bom se Rio
Bonito também pudesse viver do passado, mas para isso ao invés de tombarmos os
nossos bens históricos ao chão, precisaríamos jogar por terra o preconceito que
procede da falta de conhecimento na área, além de agirmos em prol do resgate,
da preservação e da difusão do nosso patrimônio histórico, ambiental, documental,
iconográfico e artístico municipal. Tudo isso engloba o que temos de melhor na
diversidade cultural existente em nossa cidade e isso tem que ser refletido, agora,
porque já estamos sentido os efeitos causados pela construção do Complexo
Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. Sendo assim,
Rio Bonito corre o risco de perder a sua identidade histórica e cultural.
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