domingo, 31 de março de 2013

Pág. 5 - Em Rio Bonito, o direito de “ir e vir” não é respeitado


Flávio Azevedo

Na Alemanha, o muro de Berlim caiu. Em Rio Bonito, porém, ninguém consegue derrubar o muro que separa dois vilarejos irmãos: Jacundá e Mineiros, onde o povo é "violado" em seu direito de "ir e vir".
O artigo 5º da Constituição Federal estabelece o que se convencionou chamar de “Direito de Ir e Vir” de todos os cidadãos brasileiros. Ou seja, qualquer pessoa tem o direito de poder chegar, e com facilidade, a qualquer lugar. Todavia, em Jacundá e Mineiros, no interior de Rio Bonito (2º Distrito), os moradores locais, cerca de 100 famílias, não têm esse direito respeitado há cerca de 15 anos. Por conta da privatização da RJ – 124 (ViaLagos), a Justiça determinou que uma centenária estrada, que liga Jacundá a Mineiros, localidade vizinha, fosse interditada.

É que com a criação da Praça de Pedágio da ViaLagos, implantada em Palmital (Latino Melo), a estrada que liga Jacundá a Mineiros tornou-se a única alternativa para o cidadão trafegar sem ter que enfrentar a tarifa ‘mais cara do país’. A via ganhou mobilidade e passou a ser acessada, principalmente por caminhoneiros. Segundo moradores, o aumento do fluxo de veículos trouxe, inclusive, benefícios financeiros para os locais, “porque com a venda de mariola, água, salgados e frutas, nós conseguimos obter uma renda extra”, conta um dos moradores de Jacundá.

Uma das mais antigas moradoras da localidade, ao falar sobre o assunto, ela comenta que há cerca de 40 anos, quando fixou residência em Jacundá, “a estrada, hoje, considerada a principal, não existia. Isso era uma mata virgem. Essa estrada que foi fechada já existia e todo o trânsito dos sítios e fazendas passavam por ela”, conta a moradora. Ela acrescenta que “são situações como essa que faz o pobre não acreditar na Justiça”.
– Afinal de contas esse fechamento favorece quem? Não beneficia os moradores, não beneficia os fazendeiros (eles estão quietos, mas são prejudicados), não beneficia o município... Não tem como não acreditar em coisa errada nesse negócio. Perdemos o nosso direito de ir a Araruama e Saquarema como sempre fizemos. Tudo nosso tem que ser feito em Boa Esperança e Rio Bonito, porque para irmos à direção oposta tem que pagar esse pedágio absurdo – reclama.

Coisa feia

Na segunda metade da década de 90, depois de inúmeros embates com a concessionária, a Justiça deu decisão contrária a população. À época, em uma das muitas manifestações idealizadas pelos moradores, dois ônibus, repletos de policiais militares foram enviados para o local com o objetivo de sufocar a manifestação (esses policiais são aqueles que o governo do Estado afirma não ter em número suficiente para reforçar o 35º Batalhão da PM e a 3ª CIA da PM de Rio Bonito. Entretanto, quando convém aos poderosos, os tais policiais aparecem e em número que o Estado achar necessário.

Nossa reportagem esteve no local da interdição no último sábado (23/02) e descobriu que há duas semanas os moradores abriram uma passagem por fora da estrada, mas a ViaLagos, como se tivesse uma “bola de cristal”, rapidamente chegou ao local e abriu uma vala no caminho alternativo. No 2º Distrito, há quem afirme existir, entre os moradores, “olheiros” que são pagos para informar a concessionária a remoção das barreiras ou qualquer tentativa de atravessar para um lado ou outro.
– É até difícil falar qualquer coisa sobre isso, porque nós temos medo. Aqui todo mundo é pobre, humilde, trabalhador e essa empresa é muito forte, tem muito dinheiro, tem gente graúda por trás dela e a Justiça sempre dá ganho de causa para ela. Outro dia um vizinho tentou tirar a barreira. Não deu muito tempo a polícia estava na casa dele com funcionários da ViaLagos. Agora você vê! Esse vizinho precisa ir a Araruama regularmente, mas como pagar esse pedágio absurdo todo dia? Ele contou que foi até ameaçado! – revelou um morador que por medo, pede para não ser identificado.

Outro antigo morador do local aproveita a presença da nossa reportagem para fazer mais reivindicações. “A verdade é que nós estamos abandonados! A justiça não está a nosso favor... Sobre esse fechamento absurdo da estrada que liga Jacundá a Mineiros, se falarmos alguma coisa está arriscado sermos até presos... Está faltando médico no Posto de Saúde há dois meses... Cheio de gente aí com pressão alta, diabetes e não tem médico... Nessa hora não tem polícia! A nossa estrada não é mais cuidada... Os políticos só lembram do nosso lugar em época de eleição... Nesse tempo, diariamente, tem um monte de gente em nossa porta... Depois some todo mundo”, conclui pensativo o morador.

Nota da Redação: sempre tem alguém, não sabemos o porquê, duvidando da veracidade de histórias perversas como essa. Se você está entre esses, visite Jacundá ou Mineiros. Vá a uma das barraquinhas, e, despretensiosamente, converse com os moradores locais. Temos certeza, inclusive, que você tomará conhecimento de fatos que nós não narramos aqui. Recentemente o deputado estadual Paulo Melo visitou o Parque Andréa. Ele bem que poderia ter dado uma chegadinha em Jacundá e Mineiros. Certamente ele ouviria com as próprias orelhas o que nós ouvimos. Que tal deputado?

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