Contas que não fecham, repasses deficitários, subfinanciamento de serviços, desvalorização do Pronto Socorro (PS) em detrimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), acordos firmados que não estão sendo cumpridos e contratos desrespeitados. Essas foram apenas algumas das reclamações feitas por parte da diretoria do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) em entrevista concedida a nossa reportagem na noite da última segunda-feira (23/07), depois de uma reunião que contou com a participação de diretores e membros do Conselho Fiscal da instituição.
– A coisa está muito complicada e a principal razão dos problemas que nós estamos atravessando está na Secretaria Municipal de Saúde, na pessoa da sua secretária, que com a sua forma de agir está prejudicando o município, a população, sendo o HRDV uma das suas principais vítimas, pois ao contrário dos anos anteriores nós estamos com um déficit de R$ 300 mil mensais – disparou o presidente em exercício Luiz Fernando Romanelli Cardoso.
As constantes faltas de médicos, sobretudo nos fins de semana; o subfinanciamento do PS (setor de responsabilidade do município); a prestação de serviços como Oftalmologia e Oncologia, que deveriam dar maior retorno financeiro ao hospital; e o mascaramento da Programação Orçamentária Anual (POA), são outras reclamações da direção da unidade. “Alguns recursos que nós tínhamos eram conquistas alcançadas durante esses 10 anos que nós estamos administrando o HRDV. Mas com a gestão plena (o município ordena os gastos com a Saúde), tudo passa pela Secretária. Com isso, ela está repassando benefícios e prêmios, que foram conquistas nossas, como subsídio ou pagamento por serviços prestados”, denuncia Romanelli.
Quanto as reclamações sobre as constantes falta de médicos na emergência, a direção da unidade não foge a essa responsabilidade e concorda que o salário (R$ 3,9 mil líquidos) dos médicos está defasado, “precisam ser revistos, mas não há recursos para fazer esse reajuste”. Segundo o gerente Lupércio Lopes, “A UPA está pagando bem mais que isso”. Para ilustrar a questão ele apresenta números que falam por si só.
– A nossa emergência conta com clínico, pediatra, cirurgião, anestesista, obstetra e ortopedista (12h). Só essa folha de pagamento mais os encargos chegam a R$ 257 mil. Mas ainda têm os gastos com materiais, água, luz, telefone, medicamentos e os profissionais técnicos (enfermagem, recepção, vigilante e auxiliar de serviços gerais), que custam cerca de R$ 35 mil aos cofres do HRDV todo mês – argumenta Lupércio, que aponta um déficit de cerca de R$ 80 mil mensais somente na emergência, “porque a Prefeitura paga, por esse serviço, apenas R$ 208 mil.
Ainda segundo o gerente, a falta de médicos não deixa doente apenas o cidadão, “mas o HRDV também sofre em termos financeiros”. Segundo Lupércio, o Pronto Socorro é o motor que move os setores do hospital. “Nós precisamos alcançar, por mês, uma meta de 430 internações, mas como não temos médicos, não internamos ninguém, o que gera prejuízo. Até o pouco que era arrecadado com os convênios e pacientes de Planos de Saúde (cerca de R$ 10 mil) nós perdemos, porque como não tem médico, as pessoas não buscam a emergência”.
Para Romanelli, sempre mais enfático em suas colocações, era isso que a secretária de Saúde (Maria Juraci Dutra) queria que acontecesse para que a Prefeitura pudesse assumir a direção do HRDV. “Infelizmente, nós acreditamos nas suas promessas. Pensávamos ser ela uma parceira. Mas a verdade é que ela estava preparando um golpe, um ataque pelas nossas costas”, dispara Romanelli, que atribui os problemas de saúde que afastaram o presidente titular do HRDV, o advogado Luis Gustavo Martins, às atitudes “traiçoeiras” da secretária.
Dúvida Cruel
O Centro de Terapia Intensiva (CTI), que junto com a Unidade de Assistência de Alta Complexidade Oncológica (Unacon – Centro de Oncologia Rio Bonito), são serviços recentes oferecidos no HRDV também foi abordado durante a entrevista. A situação do CTI é grave, “porque todo mês fechamos as contas desse setor com prejuízo”. De acordo com os diretores da entidade, o CTI contém sete leitos, sendo cinco conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e dois para convênios e planos de Saúde.
– Por 130 internações, agora subiu para 140, nós recebíamos R$ 153 mil mensais. O volume de internações, porém, é superior a esse número. Aliás, todas as internações acima do que está contratado (130 internações), cerca de 20 por mês, nós não recebemos porque o teto contratado já está ultrapassado – lamenta Lupércio.
Diante desse cenário, os diretores do HRDV apontam para um impasse. “Se o teto de internações (130) já foi ultrapassado, o correto é não internar, mas é justo deixar uma pessoa morrer, porque essa meta já foi alcançada? É isso que nós queremos? Não é mais fácil e humano o poder público pagar essa diferença? E como fica o médico? Será que algum profissional, por conta de teto de internação, vai se recusar a receber um paciente?”, questionam os diretores do HRDV, alegando que constantemente esses assuntos são levados ao município, a secretária de Saúde, “mas ainda não conseguimos sensibilizá-los”.
De acordo com os diretores do HRDV, a UPA de Rio Bonito, uma unidade tipo III, idealizada para atender municípios de até 200 mil habitantes, contribui de maneira significativa com o volume de internações (do CTI) acima do teto de internações.
– Quando a UPA veio para Rio Bonito, ele chegou com modelo regional. Para justificar 200 mil habitantes, calculou-se um perímetro que contempla Silva Jardim, Tanguá, Rio Bonito, parte de Casimiro de Abreu e Cachoeira de Macacu. Isso contribui para que os pacientes cheguem aos montes ao CTI, que é a referência da UPA. O problema é que nós ultrapassamos o teto de internações e o prejuízo é constante – afirma Lupércio.
A Unidade Intermediária (UI), classificada como “Enfermaria A” é outro “buraco sem fundo” e, segundo números oferecidos pelos diretores do HRDV, “uma constante fonte de prejuízos”. O setor é composto por cinco leitos, que consome os mesmos medicamentos e recursos do CTI, mas não tem igual remuneração.
– No CTI nós recebemos por dia, na UI, com pacientes da mesma gravidade, nós recebemos por internação. Se o paciente ficar no setor uma semana ou quinze dias, o que recebemos do SUS é a mesma coisa. A ideia era desativar a UI quando o CTI entrasse em operação, mas por conta de uma série de compromissos, que ainda não foram cumpridos, ela foi mantida. No fim do mês, porém, é o hospital quem paga essa conta – destacam.
Assembleia
Com o pedido de licença do presidente Luis Gustavo Martins, assumiu a direção do HRDV o vice-presidente Luiz Fernando Romanelli Cardoso, que durante a entrevista estava acompanhado do Procurador da casa, o advogado Luiz Guilherme Cordeiro; e do 2º tesoureiro, Antonio Pinto de Oliveira Neto. Conforme publicação feita no jornal Folha da Terra (edição de 21/07), a diretoria convocou uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para o próximo dia 1º de agosto (quarta-feira), “quando será discutido o futuro do HRDV e será exposta a situação da unidade. A assembleia, que será realizada no Esporte Clube Fluminense, acontece a partir das 19h, é aberta a população e o cidadão que estiver preocupado com o hospital deve participar”, convocou Romanelli.
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